Há uma frase creditada ao Dalai Lama, que percorre as redes sociais, e que diz assim: “O planeta não precisa de mais pessoas bem sucedidas. O mundo precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias, amantes de todos os tipos”.
O mundo já andava estranho bem antes do coronavírus tornar-se esse bichinho devastador. Há muito que nos perdermos nas curvas da estrada. E, a cada capotamento nosso senso de humanidade foi-se esfacelando. É difícil seguir acreditando que o ser humano ainda tenha jeito. Mas, a gente precisa seguir, com esperança, olhando para o futuro pelo para-brisas e para o passado pelo retrovisor, sempre respeitando as devidas dimensões das vidraças.
Desde que a pandemia da COVID-19 começou, ouvimos o discurso de que temos que salvar a economia, que é preciso encarar o vírus sem medo e que morra quem tiver que morrer. Por outro lado, desde o começo desta pandemia, eu vi muitos artistas se mobilizando, de forma voluntária e solidária, para estender a mão a pais e educadores que não sabiam o que fazer para acomodar novas rotinas às suas vidas e às de seus pequenos.
Em março de 2020, quando o coronavírus virou nossas vidas do avesso, e ao longo de todo aquele ano, contadores de histórias de todo o Brasil, mobilizaram-se para levar conforto, diversão e alguma alegria a quem quisesse e precisasse. Inúmeras ações, individuais e coletivas, foram realizadas. Olho com carinho para esses tantos encantadores de palavras, que acreditam que o mundo pode ser um pouquinho melhor, apesar do vírus e da virulência humana.
No dia 20 de março celebra-se o Dia Internacional do Contador de Histórias, dia para celebrar e também para refletir sobre o mundo que queremos e as relações que desejamos. Se por um lado criticamos o excesso de uso da tecnologia, por outro foi a tecnologia que nos possibilitou andar juntos e chegar a tantos lugares e pessoas. Em tempos de distanciamento é a tecnologia promove a aproximação e o convívio social. O problema nuca foi a tecnologia, mas o modo como à usamos.
O mundo precisa de mais pessoas dispostas a colaborar, a aquietar corações e mentes e ajudar a compreender a linha tênue que separa a ficção da realidade, uma vez que toda a realidade dada é construção de narrativa. O contador de histórias ilumina o retrovisor, para que não percamos de vista o passado, de modo que este possa melhor guiar nossos passos rumo ao futuro. As boas histórias também fazem isso. Estamos mergulhando no outono, um tempo que pede calma e recolhimento, como necessita o frágil momento vivido. Que o outono traga o desejo de boas histórias, de leitura compartilhada e tranquilidade no caminhar.