Elisa Lucinda é uma artista plural e intensa. Sua poesia é potente, instigante, envolvente. Quase impossível passar por um poema seu, sem se deixar invadir. “Só de sacanagem” eu ouvi primeiro na voz da cantora Ana Carolina. Seja na voz de Elisa Lucinda, ou de Ana Carolina, este poema me convoca à teimosia.
Quase um ano depois do início da pandemia da COVID-19, enquanto muitos ainda desacreditam do vírus, não se sensibilizam com as quase 250 mil mortes notificadas apenas no Brasil, e outros tantos se negam a usar máscara de modo adequado, espalham teorias infundadas sobre a vacinação, “só de sacanagem” eu teimo em fazer, na medida que meu braço alcança, o correto. Por isso, nessa semana, vou celebrar Elisa Lucinda.
Meu coração está aos pulos (disse a poeta)!! Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, vírus, virulência, falta de empatia, de ética, de respeito à vida, conspirações, notícias falsas. Quantas vezes, meu amigo, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que as atitudes dos maus brasileiros venham quebrar no nosso nariz. Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada aos conselhos e orientações de cientistas e profissionais responsáveis: “use máscara, cubra o nariz e a boca. Lave as mãos, use álcool em gel. Se puder, fique em casa. Evite circular sem necessidade, fuja de lugares fechados, não faça viagens desnecessárias. Pense na vida que tem pela frente, viva esse dia como se não fosse o último, como se todo o amanhã fosse possível”.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até cloroquina preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só aos ingênuos interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais ainda a coisa certa eu vou fazer. Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo enrola”. E eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos fazer tudo que podemos fazer. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético, saudável e o escambau.
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui quer mesmo é cuidar do próprio umbigo”. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? IMORTAL! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!