No ano da pandemia, na semana em que celebramos, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, um homem negro foi morto a golpes, num supermercado na capital gaúcha e o vice-presidente da república afirma que “no Brasil não existe racismo”. Nesta semana, faltaram-me palavras e transbordaram muitos sentimentos.
Só consegui escrever esse texto depois de ver, nas redes sociais de uma amiga, a imagem de duas pessoas, uma de pele branca e outra de pele negra, abraçando-se fortemente. Aquela imagem capturou o meu desejo de abraçar cada amigo. Quando as palavras faltam, é o abraço que fala melhor. Mas, nem mesmo dentro de um abraço podemos nos jogar nesse momento. Na?o por falta de vontade ou bem querer, mas por zelo, respeito e consciência. Por tudo isso que falta a tant@s, no gesto, nas palavras e nas ações.
Muitos brasileiros escolheram engatar a marcha a? re? rumo ao futuro. Não porque seja mais fácil andar para trás, já que para andar de marcha à ré e? preciso varrer a sujeira da nossa história para baixo do tapete. E é preciso um tapete bem grande para esconder tanta sujeira. Negar a escravidão não é reparar a narrativa histórica, é inventar um conto de fadas.
Dizer que “na?o existe racismo no Brasil”, só reafirma o fato de que neste território existem muitos Brasis, todos eles sa?o racistas, mas alguns escolheram usar antolhos, outros olhar para suas questo?es, problematizar e ajudar a diminuir o racismo estrutural e as desigualdades sociais.
Mas, é preciso lembrar que estamos na era da pós-verdade e para muitos a verdade é aquela que acomoda melhor e mais confortavelmente na sua verdade. O fato é que não se pode combater o que não existe. Então, para algumas pessoas, é mais fácil negar. Acontece que, assim como negar uma doença não cura a doença, negar o racismo, ou qualquer tipo de preconceito ou violência, não resolve o problema.
Que possamos engatar a primeira marcha novamente e andar em frente, para que no futuro não nos falte consciência, respeito e empatia.