Amar e cuidar

Texto publicado na edição do dia 11 de junho de 2021

0

Já faz muito tempo que cuidar, assim como amar, vem ganhando outros significados. As ações que esses verbos exprimem foram virando coisinhas. Verbo é pra ser conjugado, é pra ser vivido, não dá pra coisificar um verbo. É verdade que para manifestar o amar, não basta a palavra, amar é mais do que apenas dizer “eu te amo”, é cuidar e se fazer presença, ainda que fisicamente distante.

Quando todo esse tempo estranho, que um dia há de virar memória de um passado longínquo, começou, disseram que era preciso distanciamento social, que todos que pudessem deveriam ficar em casa, evitar circulação desnecessária e aglomerações. Os pessimistas, assim como os negacionistas e os ranzinzas, até hoje chamam máscara de focinheira e o distanciamento, que quase nunca fizeram, como retirada do direito de ir e vir. O fato é que as pessoas continuam circulando, assim como o vírus, que circula tanto que já fez filhotinhos, que já lotou UTIs, que já levou muita gente.

Usar máscara, no entanto, é um gesto de cuidado. Evitar circulação desnecessária também é. Cuidar e amar são verbos que poderiam fundir-se. Não vejo diferença entre eles, especialmente no modo como expressamos um e outro. O equívoco no início das orientações foi falar em isolamento social. O convívio social, durante o tempo de pandemia, sempre foi intenso entre os amigos que assim desejaram. Muitos, porém, escolheram conviver socialmente fazendo bom uso da tecnologia conquistada ao longo dos últimos séculos.

Ocorre que distanciamento social é diferente de distanciamento físico. Para o bem cuidar, para manifestar nosso bem querer, não podemos abrir mão do convívio social, embora o distanciamento físico se faça necessário por mais um tempo. Para celebrar a vida é preciso estar vivo, é preciso que os amigos e familiares também estejam.

Por isso, mesmo com a vacina, os cuidados são necessários. A vacina é a dose de esperança para que um maior número de pessoas saia vivo e bem desse período, mas ela não coloca um escudo protetor que impede o vírus de chegar em cada um de nós. Se tiver oportunidade, ele vai chegar e fazer a festa. A vacina não é a salvação, mas a esperança de que a festa do vírus não vire um réveillon dentro do nosso corpo.

Lembra daquela canção do Caetano que diz que “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”?! Pois então, é isso. Amar e cuidar, dois verbos que precisam andar juntos. Não abra mão de cuidar de quem você ama.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui