
Um cenário caótico, infelizmente, digno de filme. Assim se encontram algumas cidades do Vale do Taquari, atingidas pelo ciclone extratropical na última semana. As cidades mais afetadas pelas enchentes foram Roca Sales, Muçum, Encantado, Lajeado, Venâncio Aires, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul e Estrela, que juntas somam inúmeros desabrigados, 46 mortos e oito desaparecidos.
No último domingo (10), a reportagem do JC esteve em Roca Sales e Muçum, junto à equipe do Corpo de Bombeiros Voluntários de Candelária, e pôde presenciar uma onda de solidariedade e amor ao próximo, em meio as marcas dos momentos agonizantes vividos pelos moradores nos últimos dias. A parte mais baixa do município de Roca Sales, costeada pelo rio ficou completamente devastada. No domingo ainda era possível encontrar lojas e casas cobertas de lama, ruas em que não sobrou um único imóvel, equipes de busca procurando desaparecidos, moradores tentando recomeçar e inúmeros voluntários, de diversas cidades do estado, colocando a mão na massa e auxiliando no que lhes era possível, alguns em meio à limpeza, outros em meio às panelas fazendo comida para os moradores e voluntários, outros designando donativos, mas todos unidos em prol daqueles que mais precisavam.
Dentre tudo, a esperança move cada morador que, anonimamente, relatou a angústia vivida. “Aconteceu tudo muito rápido, em questão de horas, a água subiu e levou tudo consigo. Eu moro no segundo andar e a água foi até lá. Perdi tudo, mas estamos vivos”, relata uma moradora.
Ao chegar em Muçum, que também estava devastada, uma família perguntou como estava o mundo lá fora. “Não temos luz, água, sinal de telefone e internet, não sabemos o que está acontecendo lá fora ou como estão as outras cidades ao redor. Dizem que Roca também foi muito atingida”, comentam os moradores que, em seguida contam sobre a noite da última sexta (8), “foram momentos desesperadores. Não tínhamos o que fazer, então, passamos a noite em claro, ouvindo o barulho da correnteza no meio da cidade, e vendo apenas os reflexos da água, pois como ela levou tudo, nem velas tínhamos”, relata a família.
Família candelariense busca ajuda para reconstruir a vida
A família candelariense, composta pelo casal Cristine Inês Braatz (30) e Marcos Fontanive (37) e o pequeno Benício Gabriel Braatz Fontanive (1), foi protagonista da enchente em Roca Sales, onde estavam residindo há apenas um mês. Os candelarienses habitavam o andar térreo de um prédio, que foi completamente inundado pela água na segunda-feira (4), fazendo com que a família perdesse absolutamente tudo. “Eu já passei por duas enchentes aqui em Candelária, mas não chegou a ser tão alto. Lá em Roca, faltou cerca de 10 centímetros para encostar no forro do meu apartamento. Coisa que eu nunca tinha passado. Quando disseram que poderia entrar água, eu ergui tudo da cintura para cima, para não ter perigo, porque se fosse molhar, molharia mais embaixo”, comenta Cris.
Durante a segunda-feira, os candelarienses ficaram junto aos vizinhos no segundo andar e já estavam erguendo móveis e se preparando para ir ao terceiro pavimento, mas não foi necessário, pois a água, enfim, começou a baixar. Na terça (5) à tardinha, os moradores foram ao apartamento ver os estragos. “Quando entramos no nosso apartamento, deu uma angústia parecia que tinha cortado nosso coração, arrancado alguma coisa de dentro de nós. Foi uma coisa muito triste, mas agradecemos em estarmos vivos e termos saúde”, conta Cristine.
A ficha da família ainda não caiu completamente, mas aos poucos, com a ajuda da comunidade, vai se reconstruindo. “Ainda não caiu a ficha de tudo que aconteceu, quando fecho os olhos, ainda ouço as sirenes e helicópteros voando, vejo a cena que passamos, pois foram horas de pânico. Agradecemos aos vizinhos que nos acolheram e não nos deixaram faltar nada e a todos que puderam nos auxiliar de alguma forma”, agradece.
De acordo com Cristiane, eles precisaram mudar de apartamento e muitas doações já chegaram como roupas para ela, o marido e o filho, utensílios de cozinha e colchões. Neste momento, a família pede auxílio com lenços umedecidos, pomada para assadura, brinquedos e leite para o bebê. Itens de cozinha, toalhas, roupas de cama e itens básicos também são necessários. “Conseguimos bastante roupas e já destinamos algumas que não nos serviram também. Eu peguei o básico, como materiais de higiene, e passei adiante, pois sei que tem mais gente precisando”, finaliza. As doações podem ser levadas até a Embalagens Candelária na Avenida Marechal Deodoro n°684, ou feitas através da chave pix 02993847058 – Cristine Braatz.
Assistência presta auxílio
A secretaria de Assistência Social e Habitação esteve com uma equipe na cidade de Muçum durante a última terça (12), prestando auxílio às vítimas da enchente. De acordo com a secretária de Assistência Social, Jaqueline Macedo dos Santos, a equipe formada por um psicólogo, motorista, assistente social, advogado e um estagiário de serviço social, além de levar produtos de limpeza arrecadados na caminhada cívica, também esteve atendendo a equipe de óbitos. “Ficamos na equipe de óbitos. Então, atendíamos as famílias que tinham perdido alguém, pessoas que perderam as mães, os filhos e seus entes queridos, fomos nas residências oferecendo atendimento psicológico e social”, comenta.
Além disso, a equipe também prestou auxílio realizando encaminhamentos para benefícios e analisando quais as necessidades de cada morador. “Fizemos um levantamento das casas e o que precisavam nelas, se precisavam de equipes para auxílio na limpeza, de móveis, telhado e após, levávamos para a prefeitura. Nosso dia foi no atendimento psicossocial, atendendo as famílias que perderam seus entes queridos”, explica a secretária.