Histórias de Juiz – O mar não está morto

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Moacir Haeser - Desembargador aposentado

Ao realizar o sonho de visitar a Terra Santa, tinha como objetivo conhecer os lugares por onde Jesus andou. É uma emoção muito forte pisar onde ele pregou e realizou milagres. Conhecer Jerusalém e sua imponência, onde ocorreu o clímax da paixão de Cristo, é a coroação de uma viagem inesquecível. Tinha muita curiosidade e não poderia deixar de conhecer pessoalmente o Mar Morto e seus mistérios. A estrada é policiada por tropas israelenses e chama à atenção que em alguns lugares há placas indicando, não a velocidade permitida, mas o NÍVEL das águas.
Para quem está viajando pelo deserto, com areias a perder de vista, salvo alguma plantações de tamareiras, as placas causam espanto. Explicou-nos o guia que o Mar Morto fica a quatrocentos metros abaixo do nível dos demais oceanos. Como Jerusalém fica na parte alta de Israel, quando há uma chuva forte, embora rara naquela região, repentinamente começa a correr água pelo deserto sem qualquer sinal de chuva. A repentina correnteza de dois a três metros pode arrastar os carros. Próxima ao Mar Morto, no meio do deserto da Judeia, no topo de um cânion, a 520 metros acima do nível do mar, fica a histórica Massada, fortaleza construída no ano 30 a.C pelo rei Herodes, a qual só é acessível pelo teleférico, de onde se tem bela vista do mar.
Do grupo apenas eu e minha esposa fomos prevenidos e levamos roupa de banho. Não poderíamos deixar de ingressar na água. O Mar Morto é um mar de água extremamente salgada localizado na divisa dos territórios de Israel, Palestina e Jordânia. Recebe esse nome porque não apresenta condições para a manutenção da vida, em virtude do elevado grau de salinidade. É abastecido pelo histórico Rio Jordão, onde Jesus foi batizado. Como o lugar é muito quente e a evaporação muito alta, há uma concentração de minerais o que contribui para a elevada quantidade de sal.
Sem ler as placas em hebraico e em inglês, ingressamos na água para sentir o efeito da salinidade. A água é tão densa, mais do que o corpo humano, o que torna impossível afundar. A gente deita e os pés voam para fora d’agua. Ficas flutuando mesmo que não queiras, com metade do corpo acima do nível da água. Sabe-se que as propriedade medicinais da água e da lama são ótimas para a pele e até curam doenças dermatológicas, sendo vendida em cremes em lojas próximas, enquanto se saboreia um suco de romã. Deitar na água não foi uma boa ideia. Ignoramos as advertências das placas, mas a ardência dos olhos deixou-nos quase cegos. Só a água doce dos chuveiros é que trouxe alívio.
Não há ser vivo que sobreviva nessas condições. Desde a década de 1980, no entanto, passou a ocorrer um fenômeno geológico em torno do Mar Morto. Surgiram enormes crateras na margem, chamadas bolaines, com água doce, possivelmente originárias de correntes subterrâneas. Nelas já proliferam peixes e vegetação. Para explicar o mistério muitos invocam o capítulo 47 do livro de Ezequiel, onde há uma profecia de que o Mar Morto voltará ter peixes e que ao redor do mar crescerão árvores frutíferas. Será que o mar não está mesmo morto?

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