Na minha infância a comemoração da independência era um acontecimento. No Grupo Escolar todas as crianças, de guarda pó branco, ensaiava diariamente, semanas antes, ao rufar dos tambores, para fazer bonito no desfile do Dia da Pátria. O ingresso no prédio era precedido do hasteamento da bandeira, ao som do Hino Nacional, cantado pelos alunos, e hora cívica, com declamações de poesias pelos estudantes. Nos desfiles, peito estufado, olhar firme para a frente e canto do olho no colega do lado, para manter sempre o alinhamento, orgulhosamente desfilávamos pela avenida principal. Atenção, SENTIDO! COBRIR! Ordinário, MARCHE! Direita, esquerda, direita, esquerda… Para nós, gurizada a festividade começava já um mês antes, não só pelos ensaios de cantos e da marcha, mas porque tínhamos a nossa própria banda.
Sentados à sombra das bergamoteiras, alguns batiam em grandes latas de querosene, tambores que marcavam a cadência e que propiciavam ótimo som. Outros usavam latas de doces, de som mais agudo, que serviam de tarol. Com baquetas improvisadas e com a música no DNA, não fazíamos feio perante as bandas do colégios, nosso som ecoando por toda a vizinhança. O orgulho de ser brasileiro, de servir à pátria, de dar o melhor de si em cada atividade, ainda me embarga a voz e me molha as faces ao assistir nossos jovens se destacando e honrando seu País em Eventos Internacionais. Na minha carreira profissional, praticamente como imposição do cargo, estive sempre presente nas comemorações, não raras vezes falando aos estudantes e autoridades sobre fatos históricos, procurando incutir nos jovens o civismo que caracterizou aquela geração. Numa dessas ocasiões recebi o convite do Prefeito para comparecer ao ato de abertura da comemoração da Semana da Pátria a ser iniciada às 8h na praça principal da cidade, bem como nos demais dias e horário, no mesmo local.
No dia 1º de setembro dirigi-me à praça, que ficava próxima ao fórum, chegando ao palanque às 7h45min, onde já encontrei o prefeito, pessoa de fino trato e que, depois, elegeu-se deputado. As crianças, acompanhadas de suas professoras, já estavam perfiladas perante o palanque oficial, assim como a Banda Municipal.
Após 15 minutos de conversa o prefeito começou a ficar inquieto com o baixo comparecimento de autoridades. Mais cinco minutos e o prefeito manifestou sua indignação pelo atraso de muitos convidados que, pelo que me disse, já estava se tornando rotineiro e poderia se repetir no restante da semana. Como contabilista e bancário, eu estava acostumado a cumprir horário e, também, procurei ser pontual nas audiências e sessões de julgamento, sempre iniciando no horário, pois é o mínimo de respeito que se deve dar às pessoas em geral, partes e advogados.
Eu lhe disse:
– Prefeito, há uma forma bem fácil de nós resolvermos esse problema de uma vez por todas. VAMOS COMEÇAR JÁ!
O prefeito abriu a cerimonia e a banda entoou o Hino Nacional, enquanto hasteávamos as bandeiras do Brasil, do Estado e do Município. Chegava a ser hilário algumas autoridades esgueirando-se entre o público, chegando por trás do palanque e aos tropeções subindo rapidamente, tentando não chamar à atenção durante a execução do hino e dos discursos. Garanto-lhes que durante todo restante da Semana da Pátria não houve mais nenhum atraso no início da solenidade. No mínimo 15 minutos antes todas as autoridades já estavam perfiladas no palanque:
“Ouviram do Ipiranga…