Histórias de Juiz – Agosto, mês do cachorro louco

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Moacir Haeser - Desembargador aposentado

Na época de minha infância, todo mundo possuía o seu cachorro. Tanto no interior como na cidade, muitos possuíam vários cães que guardavam a casa e auxiliavam nos serviços campeiros. Sem as mordomias de hoje, os cães eram tratados com os restos de comida. Praticamente não existiam veterinários e vacina para raiva não fazia parte da cultura. Não sei se foi coincidência, mas tive vários episódios que ficaram gravados em minha memória de adolescente, sempre no mês de agosto…
Correu a notícia de que a polícia e populares perseguiam um cachorro louco pelo bairro em que morávamos. Minha mãe nos colocou para dentro de casa e meu pai ficou na porta com seu revólver calibre 32 na mão. Logo em seguida o cão apareceu, babando, e parou na entrada de nosso portão. Meu ´pai apontou mas não quis atirar, pois havia casas do outro lado da rua. O cão continuou pela rua e, logo em seguida, apareceram seus perseguidores. Soubemos, depois, que havia sido morto para o lado do campo de aviação.
A porta da cozinha de nossa casa era fechada apenas com um ferrolho… e havia a abertura para a entrada e saída dos gatos. Meu quarto ficava a um passo da porta… Nosso perdigueiro, Duque, dormia sobre um saco guardando a porta. Numa noite dessas acordei com o ganidos de nosso cão sendo atacado por um cachorro louco. Segurando a frágil porta, só depois que o barulho cessou é que abri a porta e consolei nosso cão, todo mordido e babado. No dia seguinte nosso pai o prendeu do lado de fora e providenciou na vacina antirrábica. O terror me acompanhou por muito tempo pois todo mundo “sabia” que a raiva poderia se manifestar em 7 horas, 7 dias, 7 meses ou 7 anos…
Numa ocasião em que minha mãe estava no hospital, contei minha preocupação a um dos dois médicos da cidade e ele mandou que eu fosse ao Posto de Saúde e iniciasse um tratamento. Não cheguei a completar o tratamento, mas as 12 injeções que tomei já aliviaram minha consciência. Meu irmão mais novo não teve a mesma sorte. Mordido por um cãozinho do vizinho, o qual estava com a doença, precisou fazer as 21 injeções antirrábicas. Na região do campo ocorria de morcegos hematófagos atacarem o gado, causando prejuízos ao transmitirem raiva. Talvez seja só coincidência, mas o mês de agosto tem sido trágico também na política brasileira. Além do chato “sieben schleva”, que nos impõe sete semanas de dorme-dorme, eu tinha apenas seis anos quando o Brasil foi abalado com o suicídio do Presidente Getúlio Vargas.
Foi no mesmo agosto que tivemos a renúncia de Jânio Quadros, a Campanha da Legalidade do Brizola, a morte misteriosa de Juscelino Kubitschek, o início da derrubada de Collor por seu próprio irmão Pedro e a cassação do mandado da Presidente Dilma Rousseff. A morte do candidato a presidente Eduardo Campos veio se somar às tragédias que marcam o mês de agosto, além da queda esta semana do avião com o Comandante do Grupo Wagner, na Rússia.
Como o período em que deve ser enviado ao Congresso o Orçamento, respiram os políticos aliviados quando o mês se encerra e iniciamos as comemorações da Semana da Pátria. Novos ventos, novos ares, fim dos cachorros loucos, que superemos a turbulência política e possamos todos trabalhar unidos para a estabilidade e progresso de nosso nação.

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