
Sessenta anos de uma história construída por muitas mãos com trabalho, empenho e dedicação. Nesta sexta-feira (24), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Candelária estará completando 60 anos de fundação. A data será celebrada, a partir das 19h30, com um coquetel no auditório da Associação do Comércio e Indústria de Candelária (Acic), reunindo familiares de fundadores, ex-presidentes e colaboradores da tradicional entidade em defesa dos trabalhadores rurais. Uma história que teve início em meados de 1964, ano marcado pelo fim do governo do ex-presidente João Goulart, que acabou sendo deposto por um golpe militar, dando início à ditadura militar no Brasil.
Em meio ao caos político que fervilhava no país, um promotor de justiça que estava trabalhando em Candelária à época pediu ao professor Protásio Moreira Knewitz, que era seu amigo, que indicasse algum agricultor para realizar a fundação de um sindicato. Knewitz indicou ao promotor o nome do agricultor João Batista da Rosa Cândido (pai do atual presidente Juarez da Rosa Cândido). Morador de Vila Passa Sete, João Batista Cândido recebeu uma intimação do promotor para comparecer ao Fórum. “Meu pai achou estranho receber aquela intimação, mas ele foi ao Fórum. Ao chegar lá, ele ficou acompanhando um caso até que o promotor o viu e perguntou o que era para ele. Ele explicou que havia recebido a intimação sem ter cometido algum crime e queria saber o que tinha acontecido. O promotor o levou para uma sala onde passou as orientações para o meu pai reunir os agricultores, realizar reuniões e elaborar os documentos da fundação do sindicato”, frisou.
A partir da indicação do promotor, começou a luta de João Batista da Rosa Cândido, que passou a reunir vizinhos agricultores da Vila Passa Sete e promoveu uma série de encontros para debater a criação da entidade, que acabou sendo fundada no dia 24 de janeiro de 1965, tendo Claudio Jahn como primeiro presidente. Protagonista dos encontros, João Batista da Rosa Cândido optou por seguir na lavoura, mas integrou a primeira diretoria como conselheiro fiscal. A primeira diretoria não teve o reconhecimento do Ministério do Trabalho. Após muitas idas a Porto Alegre, principalmente por João Batista da Rosa Cândido, no dia 29 de julho de 1966 houve a legalização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, após a entidade obter a Carta Sindical. Uma nova eleição ocorreu após a legalização da entidade, e Arator da Rosa Cândido (irmão de João Batista e tio de Juarez da Rosa Cândido) foi eleito presidente, com Fernando Batista Pereira como secretário e Ervino Alvino Radtke como tesoureiro. Radtke pediu desligamento e cedeu o cargo, que foi ocupado por Arnildo Rahtke.

Juarez da Rosa Cândido conta que Arator comandou a entidade por 22 anos, sendo o alicerce para tornar o sonho em realidade. “Os membros da primeira diretoria não tinham nada a oferecer aos agricultores. Eles tinham o sonho de fundar o sindicato e buscar direitos, mas era só o sonho. Eles começaram do zero, onde alugaram uma sede na Rua Thompson Flores. Depois, compraram uma casa na esquina da Avenida Marechal Deodoro com a Rua Bento Gonçalves (atual casa de Claudio Wolff). O lugar ficou pequeno, e eles venderam lá e compraram esta área atual, onde estamos atualmente (esquina da Avenida Marechal Deodoro com a Rua 7 de Julho). Na época, só se tinha o sonho e a coragem, que formaram o alicerce para que a gente chegasse aqui”, conta.

As primeiras conquistas do STR
Arator da Rosa Cândido liderou as primeiras lutas do movimento sindical em benefício dos trabalhadores rurais de Candelária. Durante sua gestão, nos anos 1970, foi conquistada a aposentadoria no valor de um salário mínimo para homens trabalhadores rurais com mais de 65 anos. Outra importante conquista foi o benefício estendido às mulheres viúvas. Nesse período, surgiu o Funrural, um programa que garantiu aos agricultores direitos como internações hospitalares, a implantação de consultórios médicos e odontológicos nos sindicatos, além da realização de convênios para consultas.

Arator também foi um dos protagonistas na luta pela igualdade de direitos entre trabalhadores rurais e urbanos, que culminou na formatação da Constituição de 1988. Esse marco histórico assegurou a aposentadoria no valor de um salário mínimo para homens aos 60 anos e para mulheres aos 55 anos, na condição de segurados especiais. Em 1990, René Hübner assumiu a presidência da entidade e acompanhou a implantação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Por meio desse programa, os agricultores passaram a ter acesso a linhas de crédito do governo federal, voltadas para subsidiar o custeio da lavoura e da propriedade rural.
Legado segue há 34 anos por Juarez Cândido
Se, no primeiro ciclo, os irmãos João Batista e Arator da Rosa Cândido (ambos já falecidos) foram fundamentais para consolidar o alicerce do Sindicato dos Trabalhadores Rurais com seu trabalho de liderança, apoiado por muitas mãos, coube ao filho de João e sobrinho de Arator dar continuidade ao legado familiar no movimento sindical. O atual presidente, Juarez da Rosa Cândido, acompanhou de perto a luta do pai e do tio e, a partir de 1991, na gestão do presidente René Hübner, iniciou sua trajetória dentro da entidade. Essa caminhada já soma 34 anos, dos quais 28 foram dedicados à presidência e à liderança principal da instituição.
Juarez relembra seu início no sindicato em 1991, como secretário durante a gestão de René Hübner: “Eu vivi uma época de duas fases do sindicato. Entrei junto com René Hübner, ele como presidente e eu como secretário, acumulando também a função de vice-presidente na época. Já havíamos conquistado os direitos previdenciários e de saúde com a Constituição de 1988, mas ainda faltava regulamentá-los. Os aposentados recebiam apenas meio salário aos 65 anos. Com a regulamentação da lei, em julho de 1992, iniciou-se a previdência para os trabalhadores rurais”. Juarez também recorda que assumiu pela primeira vez o comando da entidade por quatro meses, após René Hübner se licenciar para concorrer a vereador, cargo no qual foi reeleito e destacou-se como um dos mais votados da época.“O promotor de justiça Elemar Gräbner foi quem homologou os primeiros pedidos de aposentadoria dos trabalhadores rurais. Naquele tempo, as mulheres rurais não tinham documentação própria e usavam os blocos e documentos de seus maridos. Em 1992, com a regulamentação, começou o processo de aposentadorias, e o sindicato chegou a registrar 40 processos por semana junto ao promotor. Levávamos até 120 pessoas com testemunhas para homologar as aposentadorias,” conta.

Outro marco importante, segundo Juarez, foi a chegada do crédito rural para a agricultura familiar, em 1995.“Naquela época, não havia crédito para custeio da agricultura familiar. Por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), conseguimos criar uma linha de crédito que auxiliava os trabalhadores rurais no custeio de suas propriedades,” destaca. Ele também relembra o início dos investimentos em habitação rural:“Muitas pessoas realizavam projetos no sindicato para construir galpões e paióis. As casas onde residiam eram tão precárias que acabavam morando nos galpões e usavam as casas como paiol. Isso gerou problemas legais, já que os recursos não eram aplicados conforme o previsto. O Eduardo Souza, da Emater, responsável pela fiscalização, me questionou sobre o que fazer, já que todos os galpões visitados tinham pessoas morando. Disse a ele para seguir com seu trabalho, pois isso provaria a necessidade de recursos específicos para habitação rural. Assim, nasceu o sonho da habitação rural, que se consolidou em 2002, atendendo quase mil famílias em Candelária,” relata.

Juarez destaca que o movimento sindical foi construído com o esforço coletivo de muitas mãos:“Nesses 60 anos, queremos saudar e lembrar todos os fundadores e suas famílias, que foram fundamentais para as conquistas. Se hoje temos uma entidade estruturada, é porque o alicerce foi bem feito lá atrás”, frisou o presidente. Atualmente, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais conta com cerca de mil associados e uma equipe composta por dois diretores e três colaboradores que atuam na sede.“Hoje, o volume de trabalho é muito maior do que no início. O sindicato realiza todo o serviço burocrático e administrativo para auxiliar os trabalhadores rurais, atendendo a uma grande demanda de associados e clientes”, concluiu Juarez.
João Lauer: “Família Cândido teve conhecimento e muita liderança”
Um dos sócios mais antigos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelária é o agricultor aposentado João Lauer, de 76 anos, associado desde os 18 anos e que integrou a diretoria da entidade por quatro mandatos. Morador da localidade de Picada Escura, Lauer relembra que se associou ao sindicato para ter uma entidade que defendesse seus direitos:“Naquele tempo existia o Inamps, e o sindicato me auxiliou a encaminhar a minha aposentadoria. Também não havia médicos e dentistas, mas, com o sindicato, conseguíamos tudo,” recorda. Atualmente, Lauer integra o conselho de liderança da entidade. Ele elogia o trabalho desenvolvido pela diretoria, especialmente pelo atual presidente, Juarez Cândido:“O sindicato é parte da história da família Cândido, que cresceu na Vila Passa Sete. O Juarez é um dos poucos que têm conhecimento e liderança e continua realizando um trabalho que é motivo de orgulho. O João Batista era meu amigo, e o seu Arator também. Eu só tenho a agradecer muito a eles, que me ajudaram muito em momentos difíceis, especialmente por motivos de saúde. Sou muito grato a todos eles,” finalizou o associado.

Festa dos 60 anos terá homenagens
Nesta sexta-feira (24), a partir das 19h30, no auditório da Acic, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais realizará uma festa para celebrar os 60 anos de atividades da tradicional entidade. O presidente, Juarez da Rosa Cândido, destacou que o evento será um momento especial para todos os integrantes comemorarem essa importante data.“Vamos realizar um ato simples, mas significativo, porque essa conquista merece ser celebrada. São 60 anos de história do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, marcados por lutas e conquistas em defesa dos trabalhadores rurais. Essa trajetória não foi construída sozinha, mas com parcerias com entidades, instituições e lideranças políticas e sindicais. Queremos compartilhar essa celebração com todos que estiveram ao nosso lado ao longo dessa caminhada”, afirmou. Cândido revelou que são esperadas aproximadamente 250 pessoas, entre diretoria, colaboradores, associados e familiares de antigos fundadores.“Vamos homenagear os 20 associados mais antigos, em dia com a entidade, como forma de reconhecimento pelo tempo de contribuição. Além disso, estaremos registrando toda a história do sindicato para compartilhar com os presentes,” acrescentou. Após as homenagens, será servido um coquetel com produtos coloniais para todos os convidados. Juarez finalizou com um apelo à confiança na entidade:“Acreditem no sindicato. Temos uma história comprovada de lutas e conquistas que merecem a confiança de todos. Seguiremos com credibilidade, trabalhando pela defesa dos direitos dos trabalhadores rurais”.
