Uma ameaça aos peixes nativos e até mesmo aos banhistas foi encontrada no último sábado (2), quando o pescador Odilar Busatto fisgou na região da Praia Carlos Larger, a prainha, uma palometa, ou piranha-vermelha. Esse é o primeiro registro da presença dessa espécie no rio Pardo. A palometa é nativa do Rio Uruguai, mas nos últimos anos tem se espalhado pela bacia hidrográfica do estado.
O técnico agrícola e chefe do escritório da Emater em Candelária, Sanderlei Pereira destaca que a entidade faz parte de um grupo chefiado pelo Ibama que tem monitorado a movimentação das palometas nos últimos anos.
Após a identificação, foi enviado um formulário para a Central da Emater em Porto Alegre, onde consta registrado a data em que a espécie foi pescada, as coordenadas do local, a forma como foi pega, quantidade, tamanho, entre outras informações.
Da capital, o formulário será encaminhado para o Ibama. A palometa fisgada na prainha está em posse da Emater e pode ser enviada ao Ibama, caso o órgão solicite para realizar alguma análise.
O surgimento de piranhas-vermelhas causa um desequilíbrio ambiental na fauna nativa pelo fato de ela matar ou ferir outros peixes, que estressados deixam de se alimentar direito. Além disso, o predador se alimenta de plânctons no início do seu desenvolvimento, o que reduz a oferta de alimentos disponíveis no rio e afeta de modo indireto todos os peixes.
Risco de Ataque
No entanto, o principal perigo, segundo o técnico da Emater, é o risco de ataque a banhistas.
O técnico enfatiza que a piranha-vermelha é mais perigosa no seu período reprodutivo que vai de outubro a março e também em dias de calor, o que torna o verão o período com maior incidência de ataques a banhistas. “O período de maior estresse da palometa coincide no período de maior presença de banhistas no rio Pardo. Por isso a orientação é que daqui para frente se tome mais cuidado”, recomenda Pereira.
Ainda é preciso ter uma noção da quantidade desses invasores no Rio Pardo, por isso a Emater conta com o auxílio dos pescadores para mapear possíveis novos aparecimentos do peixe. Como a palometa é muito parecida com o pacu, é preciso observar os dentes para distinguir cada espécie. Enquanto o pacu possui dentes semelhantes aos do ser humano, a palometa possui dentes triangulares afiados.
Apesar de o rio Pardo não ser um local de pesca profissional, os pescadores amadores como Odilar Busatto possuem um papel fundamental na identificação destes invasores.
Caso mais algum pescador encontre alguma piranha-vermelha ele pode levar o exemplar até a Emater que irá monitorar a evolução do peixe.
Espécie é invasora por natureza
Dados do Ibama mostram que no ano passado, a área de aparecimento do peixe invasor dobrou de 150 km para 300 km dentro das bacias hidrográficas gaúchas.
Atualmente a piranha-vermelha, ou palometa, se encontra espalhada por diferentes bacias hidrográficas como o rio Tramandaí e também no rio Jacuí que, de acordo com Pereira, pode ter sido o caminho utilizado pelo peixe para chegar ao Rio Pardo. “Os peixes das três bacias [rio Tramandaí, rio Jacuí e rio Uruguai] são bastante diferenciados. Há mais de 100 espécies de peixes diferentes entre essas bacias e todas estão em risco com a invasão das palometas”, afirma.
Esse é o primeiro registro de piranhas de qualquer espécie no rio Pardo. Embora já existam espécies não nativas – chamadas de espécies exóticas – como a carpa-capim, carpa prateada, carpa-cabeçuda e a tilápia.
No entanto, nenhuma dessas espécies apresenta risco para a fauna local ou para os banhistas.
Nativas ou não, o chefe do escritório local da Emater acredita que todos os peixes do rio Pardo possam estar em risco, pois são todas possíveis alvos do novo predador. “A presença da piranha-vermelha irá pressionar todas as espécies”, afirma.
As palometas possuem alguns predadores naturais como o peixe dourado, jacarés, ariranhas, lontras e jacarés. Destes, apenas as ariranhas são encontradas no rio Pardo.