Nesta época do ano, os caminhos que levam ao Travessão Schoenfeld, estão repletos de pés de tabaco recém brotados do solo. Para o produtor Fabius Jung, no entanto, já é época de colher. Desde segunda-feira (30), Fábius iniciou a colheita de 56 mil pés de tabaco plantados no primeiro dia de junho, todos por meio do plantio direto. O resultado surpreendente é fruto da parceria estabelecida entre ele e a BAT Brasil. “Essa é a minha primeira experiência. A empresa me procurou ano passado. Eles estão procurando produtores para fazerem esses testes e introduzir essa modalidade”, conta.
Os testes da empresa têm o objetivo de incentivar os produtores a iniciarem suas safras mais cedo, uma forma de amenizar os efeitos das mudanças climáticas sobre a qualidade das folhas de tabaco. Segundo o produtor, o objetivo da companhia é que seus produtores em Candelária passem a fazer o plantio com 15 dias de antecedência. Para isso, Fábius recebeu a variedade 4707, lançada no ano passado com foco no desenvolvimento rápido das mudas. “É um fumo que no Paraná eles já plantam mais cedo, eles estão trazendo pro Rio Grande do Sul para tentar escapar do sol porque em dois anos os produtores de lá perderam a qualidade”.
Embora a prática de antecipar plantio e colheita seja pouco usual, o produtor, baseado na sua experiência, aponta que é apenas uma questão de tempo para se tornar mais comum. “Há cinco, seis anos quando um falava em plantar fumo em julho, achavam um absurdo, agora se planta até em maio. Aposto que daqui a um ano terão produtores seguindo esta linha”, aponta.
Devido ao plantio fora de época, os pés de tabaco renderam menos folhas, mesmo assim, os resultados surpreenderam o produtor. “O fumo quando se planta na época normal dá 35 folhas, esse dá uma média de 27 folhas, mas isso era esperado. Até achei que nem iria render tanto a baixeira. Por causa do frio ele empilhou as folhas. É um fumo mais baixo mas de qualidade excelente. Achei que iriam ficar 20 folhas após a retirada da baixeira, mas vão ficar 22. Isso em 50 mil pés, são 100 mil folhas a mais, é uma estufada extra no final”, relata.
Fábius espera que sua plantação sirva de incentivo para que outros produtores gradualmente adotem o plantio adiantado. “A BAT oferece essas variedades para todos os produtores, mas muitos produtores ficam com receio e vão no que é garantido. Isso aqui também é para servir de espelho para os outros produtores”, comenta.
Os benefícios do método
Para Fábius a colheita antecipada auxilia no aumento da qualidade da produção. Ao intercalar sua produção em três épocas, sendo 56 mil pés no início, 100 mil pés no meio e 43 mil pés durante o final da safra, é possível dar mais atenção a todos. “Eu não posso plantar tudo numa época porque daí eu não conseguiria colher tudo. Eu fiz o plantio antecipado para poder ter mais tempo de atender as outras plantações. Assim eu consigo tirar o baixeiro e despontar os outros no momento certo”. Outra vantagem é a maior disponibilidade de mão de obra, que com o gradual êxodo rural na cidade tem sido cada vez mais raro de encontrar. “Nessa época do ano aparece bastante gente para ajudar. Depois todo mundo colhe e todo mundo precisa de mão de obra”.
Além disso, a colheita nessa época do ano dá ao produtor a garantia de que parte considerável de sua produção sofrerá menos com as temperaturas intensas do verão. Na época do calor eu já estou com ele em casa, o ponteiro está salvo, não tem problema. Só vejo vantagem”, comenta.
Embora seja preciso esperar a secagem das folhas para mensurar o êxito desta safra fora de hora, o otimismo de Fábius é notável. “Queria que vocês viessem ver esses pés daqui a 30 dias. Isto é o futuro”, afirma. Para a o futuro, aliás, a expectativa do produtor é aumentar o número de pés cultivados fora de época. “A expectativa é que na próxima safra eu plante 100 mil pés mais cedo, mais da metade de toda a minha plantação mais cedo.
Pesquisa com a UFSM
O plantio adiantado não é a única técnica pioneira de Fábius na região. Há 22 anos ele utiliza resíduos de madeira lugar da lenha no processo de secagem do tabaco. Para ele, esta é uma forma de economizar os recursos sem perder a qualidade no processo. Este método chamou a atenção da Universidade Federal de Santa Maria e, durante cinco anos Fábius colaborou com pesquisadores da universidade que analisavam a efetividade e economia da energia produzida a partir de biomassa.
Após os estudos, Fábius descobriu que o seu método gerava uma economia de 80% em comparação com quem utilizava lenha no processo. Foram publicados dois trabalhos de pós graduação que analisaram sua metodologia. O primeiro saiu em 2014 com o título “Viabilidade econômica do aproveitamento energético da serragem na bacia hidrográfica do Rio Pardo”. O segundo, publicado em 2017 chama-se “Uso da biomassa florestal como estratégia de redução dos gases de efeito estufa: estudo de caso na fumicultura do sul do Brasil/RS”.
“A pesquisa foi muito boa porque eu aprendi junto. Eu tive troca de ideias, eles trouxeram uma equipe de fora do país em um congresso, eles me deram a oportunidade de aprender junto com eles. Ficou uma parceria boa e as portas estão sempre abertas se um dia eles precisarem de novo”, resume.