Quando eu era criança, minha mãe dizia que a minha liberdade ia até onde começava a de outra pessoa. Embora sejamos seres livres, são necessárias leis que torne possível viver em sociedade, que garantam alguma civilidade. Caso contrário, corremos o risco de que viver como bárbaros.
Hoje a liberdade de expressão vem sendo usada como pretexto para justificar todo tipo de ofensa e preconceito. E o humor tem sido o escudo de defesa para os argumentos e atos mais absurdos. A condenação do humorista Danilo Gentili nas últimas semanas, decorrente de processo movido pela deputada Maria do Rosário, trouxe para as telas de computadores e celulares, de modo mais acalorado, essa discussão.
A razão desse processo foi o fato do humorista ter rasgado uma notificação enviada pela deputada, esfregando o documento em suas partes íntimas e sugerido obscenidades, antes de colocar de volta no correio. Isso tudo registrado em vídeo e publicado nas redes sociais.
Mas a fala de um humorista sobre uma personalidade política não é apenas opinião? – Perguntaram-se alguns. Antes de se posicionar ao lado de um ou de outro, antes de afirmar que o humor pode tudo e que políticos podem sempre ser ofendidos, pense: e se fosse com você? Será que você acharia graça? Será que tudo que um humorista diz é sempre piada?
Ah, mas tem a liberdade de expressão!! Querer calar um humorista é censura, é boicote à liberdade de expressão. Não, não é. Há o limite da civilidade. E o que um humorista – ou qualquer outra pessoa – diz como cidadão não é piada. A piada, para ser piada, também depende do contexto.
A liberdade de expressão, embora seja um direito, não é um direito absoluto, não está acima de todos os outros direitos. Há um limite. Quando uma pessoa usa a sua liberdade de modo excessivo para ofender, maltratar, humilhar, desrespeitar outra pessoa, coloca sua voz acima das leis que regem o viver em sociedade. Segundo o advogado Ricardo Brajterman, caracteriza-se uma violação “toda vez que alguém, exercendo o limite do aceitável, do tolerável, partir para uma agressão, um apequenamento da outra pessoa, colocando em dúvida sua reputação e sua dignidade”.
Gosto de programas de humor, valorizo o trabalho artístico, mas penso que não é possível considerar tudo que um humorista diz uma piada, assim como não podemos considerar tudo que um jornalista diz como verdade absoluta, nem crenças religiosas como verdades científicas, nem contos de fadas como realidade. Todo texto tem um contexto. Quando analisamos algo dito, há que se considerar o contexto falado, a intenção e o conteúdo do que foi dito. As redes sociais permitiram que todo mundo opinasse sobre qualquer coisa, mas é preciso ser responsável com tudo aquilo que dizemos e fazemos, até mesmo piadas.