O caminho errado – por Léla Mayer

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Num domingo ensolarado, depois de semanas de chuva e neblina, decidi ir para um almoço de família na cidade vizinha, por um caminho diferente. Aproveitar o trajeto para passear pelo interior e me inspirar com as paisagens rurais.  À tarde, meu filho perguntou se voltaríamos pelo mesmo lugar. Eu respondi que sim. Entendi que ele estava me perguntando se voltaríamos pelo interior ou pelo caminho de asfalto. Ele, no entanto, havia percebido que eu voltava por um outro caminho e estava tentando me informar isso. Mas eu estava tão feliz com o passeio, que não entendi sua pergunta.

Foram necessários alguns quilômetros rodando em estrada de chão para perceber que havia pegado o caminho errado e não fazia a menor ideia de onde estava. Só então entendi a pergunta do meu filho. Havia duas possibilidades, voltar ao começo ou seguir em frente. Sabia que estava andando numa direção que, na pior das hipóteses, me levaria para um pouco mais longe de casa, mas não tão longe assim. Resolvi seguir em frente e encarar a aventura.

Quando analisei a situação e assumi o risco do caminho, minha aflição desapareceu. Segui em frente e descobri uma paisagem ainda mais bela do que aquela que havia passado pela manhã. Antes de chegar em casa, depois de algumas subidas e descidas íngremes, caminhos de terra, pedra e grama, encontrei uma banquinha de frutas na beira da estrada, com uma fruta mais docinha que a outra. Parei, conversei com o feirante, comprei algumas frutas e voltei para casa.

Com o caminho mais longo, houve mais tempo para a conversa, para escutarmos música, para partilharmos o tempo. Quando cheguei em casa, logo pensei que a estrada errada foi o caminho mais certo. Metáfora para a vida esse erro de percurso.
Muitos aprendizados se deram a partir do erro. Aprendizados concretos, como a importância de ter gasolina suficiente para seguir o caminho sem grande aflição. Aprendizados sensoriais, dados pela boniteza do caminho, pelos diferentes cheiros do campo, pelo sabor das frutas, pelo som da voz do filho. Aprendizados geográficos concretos e também de percepção de espaço e tempo.

Aprendizados poéticos, como o fato de que, às vezes, errar o caminho pode não ser tão ruim. De que o prazer do estar juntos, a oportunidade do diálogo, assim como de errar e acolher o erro, desfrutar dos sentidos, tudo isso produz aprendizados ímpares, múltiplos e duradouros. Assumir a aventura pode abrir muitas janelas para vermos a vida por diferentes perspectivas.

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