Muitas realidades duras da vida são consideradas imutáveis, muitas vezes assistimos filmes na televisão dando conta de mudanças de comportamentos de algumas comunidades, especialmente escolas taxadas como problemáticas, com alunos indisciplinados, bagunceiros e até mesmo marginais, que se transformam com a chegada de um novo diretor com uma nova proposta. Parece coisa de cinema, mas a vida imita a arte, e essa imensa mudança acontece na vida real, exemplo disso é a Escola Municipal de Ensino Christiano Afonso Graeff, que tem origem em 1960, com o nome de Dom Bosco, criada no loteamento que se desenvolveu a partir de 1959, a chamada “Vila Ewaldo Prass”, hoje Bairro Ewaldo Prass.
A escola, que foi criada oferecendo ensino até o quarto ano primário, era uma pequena escola que foi legitimada em 1962, não tem um dia propriamente dito para se comemorar aniversário, mas a escola foi surgindo e foi crescendo, e através de diversas regulamentações chegando em 1977, tornando-se a Escola de 1º Grau incompleto Christiano Afonso Graeff, em decreto do dia 4 de novembro de 1977, e após, foi autorizada através de portaria, a ser uma Escola de Primeiro Grau Completo.
Porém, a pequena história contada no começo dessa matéria começou em 1º de janeiro de 2008, quando uma professora exemplar, oriunda das escolas municipais e particulares, foi convidada para assumir nessa data a direção da Escola Christiano Afonso Graeff. A comunidade mal sabia que dali pra frente, com o convite aceito pela professora Danieta Heinen, a escola sofreria profundas transformações, até chegar aos dias de hoje com uma das melhores escolas do município de Candelária.
É importante ressaltar, que Danieta trouxe consigo uma vasta bagagem de ensino, tida nas escolas por onde passou como disciplinadora e de grande capacidade de ensino, tendo realizado grandes trabalhos nestas escolas por onde passou. Em 2007, deixou de trabalhar em escolas particulares para assumiu uma escola na Picada Escura, que segundo ela, “serviu de base para esse trabalho na Christiano Graeff”. A escola em questão era na época tida como “Escolinha da Vila” de forma muito depreciativa, com problemas disciplinares profundos, mas especialmente com baixa estima de alunos, pais de alunos e comunidade em geral. Tudo isso era de conhecimento de Danieta, que mesmo assim, aceitou o enorme desafio.
Danieta lembra, que na sua chegada o desafio foi “impor regras, pois se elas existem são para ser cumpridas, e a partir daí, buscamos o apoio das famílias, reunindo um grupo de pais que trabalhava junto, foi ativado o CPM (Círculo de Pais e Mestres), com pessoas do bairro que percebemos trabalhavam pela comunidade”. Ela fala com convicção que esse passo fez toda a diferença, porque a partir desses pais, que trabalhavam juntos com a direção da escola, outros pais começaram a perceber as diferenças que começaram a surgir no sistema de educação e especialmente no sistema disciplinar da escola”, explica a diretora. Além das mudanças na escola, as orientações para que o aluno estudasse em casa, e especialmente foi criada uma consciência de que a escola é da comunidade, e sendo da comunidade, ela deveria cuidar. Como diz Danieta, “a escola não é minha, um dia vou embora, mas a comunidade vai continuar a viver aqui, seus filhos vão crescer aqui, e vão aprender e conquistar um futuro melhor” definiu.
A partir dessa conscientização, foi implantada uma nova mentalidade de que a escola deveria ser cuidada, através do projeto “Quem gosta cuida e colabora” a comunidade foi incentivada a ter esses cuidados, porque pertence a ela, o que fez os pais interagir com a mentalidade de escola/família. Para Danieta, esse foi o grande aprendizado que a comunidade teve, e daí por diante conseguimos realizar obras, para deixar a escola mais bonita, e até mesmo os roubos que eram freqüentes acabaram.
É claro que para conseguir tal sucesso, Danieta contou com uma equipe coesa, trabalhadora, “que pegou junto” como ela diz, e explica que “os primeiros três anos foram os mais difíceis, quando professores e a equipe diretiva tiveram ação firme, quando havia grande resistência de pais e alunos, sendo que na época alguns alunos achavam que poderiam fazer o que bem entendiam, e os pais não aceitavam disciplinar seus filhos.
Danieta ainda lembra que “a partir do momento que a comunidade entendeu que a escola existe para melhorar a vida das pessoas e valorizar a autoestima, a mentalidade da “Escolinha da vila” mudou, chegando hoje a ser anunciada pelos alunos com notável orgulho dizendo: Estudo na Escola Christiano Graeff, no Bairro Ewaldo Prass, e tanto alunos quanto pais de alunos valorizam muito e tem orgulho de pertencer a esta comunidade. A escola atende alunos do Bairro Princesa, Ewaldo Prass e outros, e é a maior escola municipal com aproximadamente 500 alunos até o nono ano, hoje com 27 turmas.
Danieta lembra que “com essas melhorias e a nova mentalidade, fomos muito criticados, nos acusaram de fazer uma prisão, já que aumentamos os muros, e ampliamos os espaços, e hoje não temos problemas de sair com qualquer turma e achar que nosso alunos irão criar problemas, já que nosso aluno hoje é disciplinado, trata com respeito às outras pessoas, mas exigem também ser respeitados, nosso aluno hoje tem orgulho da escola, e é claro que hoje existem problemas de disciplina, mas nada diferente do que acontece em qualquer outra escola” explica.
Os espaços foram ampliados e redistribuídos, com verbas dos governos estaduais, federais e municipais, que hoje estão mais limitadas, mas todas as verbas recebidas foram investidas em melhorias da escola, remanejamentos e restaurações de salas de aulas e pinturas. Danieta conta que tiveram muitos auxílio, da prefeitura, para fazer muros, para pintar, e também com as verbas arrecadadas com as festas juninas, e já são 11 anos de festas com o lucro revertido para a escola de forma democrática, já que a destinação dessa verba é decidida com o Conselho de Pais e Mestres (CPM), sendo o material adquirido com esta verba e a Prefeitura se encarrega da mão de obra. Um bom exemplo disso é os ares condicionados das salas de aula, e todas as salas possuem ar condicionado, e foram adquiridos com verbas dessas festas juninas.
Neste ano, por exemplo, a verba da festa junina será destinada a arrumar os rebocos já que a umidade acabou por estragar, revestindo as paredes com lajotas, e neste ano o COM vai pagar o material e a mão de obra. “Nenhuma obra é feita sem que o CPM seja consultado, até porque é uma maneira de incluí-los nesta comunidade, tanto, que nas nossas festas nunca contratamos segurança, os próprios pais fazem a segurança, e nesses onze anos jamais tivemos uma briga na escola” explica Danieta.
Indagada pela reportagem em quando pensa em parar, Danieta afirma que não sabe, mas pelo brilho do olhar quando fala da escola, deve estar longe esse dia, ao menos é a torcida de pais, alunos e professores, que viram diante de seus olhos uma das piores escolas municipais se transformar e se tornar junto com as outras escolas do município, numa escola exemplar. Com a frase “Ninguém é tão bom, quanto todos nós juntos” proferida pela diretora, tomamos conhecimento da dimensão do envolvimento da equipe docente com a comunidade.
Fonte: Erni Bender.