Histórias de Juiz – A Vingança do Nabo

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Moacir Haeser - Desembargador aposentado

Há quarenta anos atrás outros eram os costumes e outra a moral imperante, especialmente em nosso interior. A degradação dos costumes, tão apregoada pelas novelas, ainda não havia atingido com uma praga nossa juventude.

O professor era respeitado como grande autoridade na comunidade e ai do estudante que trouxesse um bilhete da escola informando mau comportamento. A lição era imediata e inesquecível.

Imaginem, como hoje, um aluno queixar-se do professor ou atribuir a ele suas notas baixas. Em vez dos pais irem à Escola reclamar do professor, era contra o relapso que os pais dirigiam suas reclamações.

Também as relações interpessoais eram baseadas no respeito e honestidade. A vida em comunidade assegurava a boa convivência entre vizinhos e os namoros, se não eram acertados entre os pais, por eles eram fiscalizados de perto. O convite de outras sociedades para bailes e festas – vide “Bailes do Interior” e “Bailes de Damas”, neste site – assegurava bons e sadios relacionamentos.

Os Jovens logo buscavam a convivência das famílias onde acabariam se integrando.

A anormalidade e a quebra dessa confiança era exceção. Desonrar uma jovem inocente era reprovável. Não assumir a responsabilidade e reparar o erro, pelo casamento, era imperdoável.

Contam que naquela pequena comarca interiorana a jovem e bela menina conheceu um forasteiro que exercia trabalhos de orientação técnica aos agricultores da região.

O interesse mútuo fez com que as visitas pela região se tornassem cada vez mais corriqueiras, até que surgiu um tórrido romance entre eles.

Não havia oposição dos pais. Parecia ser um bom moço e com intenções sérias.

Depois de algum tempo desse namoro, os pais vieram a saber que a filha havia sido desvirginada o que, na época caracterizava o crime de sedução, por manter conjunção carnal com menor entre 14 e 18 anos, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança.

Contam que o autor teria sido convidado à casa dos pais da moça para assumir suas responsabilidades. Nessa ocasião revelou que já era casado. Na época não se falava em divórcio e separação era uma rara exceção.

A situação gerou grande revolta e uma retaliação contra o abusador irresponsável, resultando em sofrimento físico com a introdução de um avantajado nabo.

Prestado o devido socorro médico, foi o caso parar na Delegacia de Polícia, com a apreensão do objeto.

Realizado o inquérito e oferecida a denúncia, foi “recomendado” ao funcionário que deveria preservar a arma do crime. Assim, em todas as audiências lá estava o nabo sobre a mesa do Juiz, perfeitamente conservado em vinagre.

Advogados antigos narram essa história como verdadeira.

Como dizia o gaúcho Martin Fierro, personagem do poeta argentino Jose Hernandes, “No creo en Brujas, pero que las hay las hay”.

O que posso garantir é que se você for até feira rural de Santa Cruz do Sul, onde os agricultores vendem diretamente seus produtos aos consumidores, e perguntar se eles têm para vender NABO DE CANDELÁRIA, qualquer um deles, com um sorriso malicioso no rosto, se for época de colheita, lhe alcançará um grande e comprido nabo branco.

Moacir Leopoldo Haeser – mlhaeser@gmail.com

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