Doar órgãos é dar continuidade a vida – por Sérgio Almeida

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Conheci Cecilia na Praia dos Ingleses, em Florianópolis. Ao notar que eu havia visto o cateter permanente implantado na parte inferior do seu abdômen, ela explicou: “Eu faço diálise peritoneal automatizada”. Fiquei olhando para ela com a cara de quem não entendeu nada. Cecilia continuou: “Antes de dormir, eu me conecto a uma máquina cicladora, que atua como um filtro do sangue, removendo excesso de água e toxinas do corpo. Eu sofro de insuficiência renal crônica terminal, e estou há dois anos à espera de um transplante de rim”.

Confesso que fiquei compadecido com a sua dor. Pela primeira vez eu estava frente a frente com alguém que precisava de um transplante de órgão. E, em meu retorno para casa, dentro do carro, falei com Deus: “Jesus, há dois anos Cecilia espera por um transplante. E creio que o Senhor pode dar um jeito nisso”. Acredite se quiser: três dias depois apareceu um doador. Uau, nem acreditei! Cecilia voltou a sorrir, graças ao rim novo.

Quiçá, todos tivessem a mesma sorte. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), no ano passado, quase 40 mil pessoas aguardavam por um órgão, mas, devido a recusa para doar por parte dos familiares, mais de 1200 perderam a vida na fila. E não foi por falta de apoio, pois o SUS financia 95% dos procedimentos. Além disso, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo, muito graças aos “voos que salvam”. Há 18 anos, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) lançou, com a participação do Ministério da Saúde, o programa “Asas do bem”, que transporta gratuitamente cerca de 9 mil órgãos e tecidos por ano.

Logo, se sua RG ou CNH não consta a expressão de desejo contrário, você é um doador em potencial e o seu “sim” de hoje poderá salvar a vida de mais de 20 pessoas após sua morte. Porém, será necessária a autorização da família. E, como eu ainda não havia decidido se doaria ou não meus órgãos – por falta de informação –, depois que vi a angustia da Cecilia de perto, manifestei meu desejo à minha esposa – e deixo registrado publicamente através desse texto. Além de oferecer partes de mim para que alguns desconhecidos possam viver, alguns desconhecidos oferecerão seu corpo para que eu continue vivendo.

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