Direito à preguiça

Texto publicado no Jornal de Candelária de 2 de outubro de 2020

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O que é preguiça para você? Você consegue sentir preguiça, sem sentir culpa? Começo este texto fazendo essas perguntas, porque gostaria que caminhássemos junt@s pelas próximas linhas, para pensarmos sobre a preguiça e o preguiçar. Mas já aviso que não trago respostas, apenas inquietações.

Numa primeira busca pela palavra preguiça no Google encontramos: “preguiça pode ser interpretada como aversão ao trabalho, bem como negligência, morosidade e lentidão”. E para ficar pior, ao digitar “preguiçoso”, encontramos: “que ou aquele que tem preguiça; que não trabalha ou estuda; mole, desanimado, indolente vadio, malandro”.

Preguiçoso é um adjetivo que desqualifica, especialmente quando refere-se a pessoas. Crescemos ouvindo que o trabalho dignifica o homem. Se é verdade que só o trabalho nos dignifica, a preguiça nos desqualifica? Lá se vão alguns séculos que acreditamos que não podemos parar, que é preciso trabalhar para obter mais lucro, para adquirir mais coisas, para sermos mais e melhores. Lá se vão alguns séculos que tentam nos fazer crer que ter é melhor que ser, ou que somos aquilo que temos e que compramos com o dinheiro que ganhamos com o suor do nosso trabalho (será?).

Ser e ter são verbos distintos, mas não se opõem um ao outro. Não são interdependentes, nem antagonistas. Apenas são diferentes entre si. O direito de exercer a preguiça não deveria vir carregado de culpa. A preguiça não deveria ser compreendida como a antagonista do trabalho.

O ócio, irmão da preguiça, não é um estado de coma, é um outro modo de viver o tempo. Quantas vezes já tivemos boas ideias tomando banho? O banho não é um momento de não fazer nada, é tempo de fazer outra coisa, tempo de banhar-se, de mudar o ritmo e o gesto. O banho não é inútil, pode ser apenas um hábito de higiene, mas pode também ser um tempo de preguiçar.

Podemos exercer nossa preguiça tomando chimarrão com os amigos (ainda que em chamadas de vídeo), lendo um livro, bordando, tecendo, cozinhando, plantando, dançando, cantando. Exercer a preguiça não é coisa de preguiçoso, é coisa de quem sabe que precisa de pausa para não adoecer. E você, como exerce a sua preguiça?

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