
Desde o início da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus é noticiado que os grupos de risco envolvem mais adultos e idosos do que os mais jovens. Recentemente, algumas crianças em vários países da Europa e da América do Norte desenvolveram um quadro inflamatório sistêmico, o que fez a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitir um alerta sobre a possibilidade de o quadro estar relacionado à Covid-19.
Os pequenos apresentaram dores no estômago, diarreia e vômito, seguidos de febre e, em alguns casos, vermelhidão na pele, fadiga e dificuldade para respirar. Os sintomas são causados por uma doença misteriosa que foi observada em países como Estados Unidos, Reino Unido, França e Itália. O problema é que alguns dos pacientes testaram positivo para o novo coronavírus ou apresentam anticorpos para a doença, o que significa que foram infectados pela Covid-19, mas se recuperaram.
O alerta da OMS não é para a população e sim para os médicos. Segundo Daniella Moore, pesquisadora do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz, a observação dos casos pode mostrar aos profissionais de saúde a possibilidade de outras abordagens em relação ao novo coronavírus.
“Esses estudos mostram que pode haver outra manifestação clínica e não somente a respiratória convencional que estamos habituados. Pensar em Covid-19 e agora relacionada a essas doenças, vai abrir o espectro de tratamento que temos para fazer”, ressalta.
A Organização Mundial de Saúde estuda o ocorrido para saber se está se manifestando em todo o mundo, se foram casos isolados em alguns países e se há alguma associação com a Covid-19. Ainda segundo Daniella, o Brasil não tem publicações científicas descrevendo essa síndrome, mas há conhecimento de, pelo menos, sete casos identificados e que estão sob investigação.
No Brasil, gestores, serviços e profissionais da Saúde estão atentos ao caso. O Ministério da Saúde, por intermédio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e da Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, assim como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) reconhecem a necessidade de alerta à comunidade pediátrica, reforçando a importância do diagnóstico e tratamento precoces da Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças e Adolescentes e da possível associação à Covid-19.
A maioria das crianças com infecção pelo novo coronavírus é assintomática ou apresenta sintomas leves da infecção. Vale ressaltar, também, que até o momento, as crianças responderam por uma porção mínima dos casos na pandemia global. Entretanto, a identificação da Síndrome Inflamatória Multissistêmica nos últimos dois meses, com sintomas semelhantes à rara Síndrome de Kawasaki, aumentou a atenção em relação à vulnerabilidade das crianças e adolescentes.
Precaução
A nova síndrome ainda tem poucos casos e são raras as crianças que chegam a um estado grave, precisando de UTI, mesmo assim, em uma pandemia, o surgimento de novos quadros deve ser incorporado ao raciocínio clínico. O alerta é mais um direcionamento ao corpo médico, para que eles não fiquem focados apenas nos sintomas clássicos relacionados ao coronavírus. No início a febre, a tosse seca e a falta de ar eram as principais características, mas surgiram outros quadros, como a perda do olfato e do paladar.
Sem pânico
A preocupação agora é identificar as crianças com Síndrome Inflamatória Multissistêmica, pois como o quadro apresentado inicialmente são as complicações intestinais, o paciente pode ser enviado para casa com um diagnóstico diferente.
Os pesquisadores afirmam que o trabalho agora é caracterizar essa síndrome e seus fatores de risco, entender a causalidade e descrever as intervenções de tratamento. Ainda não está claro o espectro completo da enfermidade e se a distribuição geográfica na Europa e na América do Norte reflete um padrão verdadeiro ou se a condição simplesmente não foi reconhecida em outros lugares. Segundo a OMS, apenas a coleta de dados padronizados que descrevam apresentações clínicas, gravidade, resultados e epidemiologia podem responder à questão nos próximos meses.
Fonte: Agência do Rádio