Ainda faltava quase uma hora para o amanhecer, mas Geneci Rosa, 47 anos, trabalhadora da empresa Renascer, e Luiz Carlos Rodrigues, 65, funcionário há uma década e meia na Prefeitura de Vera Cruz como mecânico, já estavam prontos para ir trabalhar.
Era manhã de terça-feira (17) e eles saíram no seu Gol vermelho deixando para trás a casa para a qual haviam se mudado fazia apenas duas semanas. Ambos estavam felizes, pois batalharam muito para sair do aluguel e ter um cantinho próprio onde pudessem plantar uma horta, ter mais espaço para si.
Geneci e Luiz estavam juntos fazia mais de um ano e gostavam muito de pescar. De certa forma, fazia muito sentido que vivessem tão próximos de um curso água — fonte de vida, de diversão e, infelizmente, também de tragédias.
Talvez por terem se mudado há tão pouco tempo e não conhecerem bem a região, na Linha Bernardino, próximo ao Aqueduto de Candelária, Geneci e Luiz resolveram tentar passar de carro em uma região mais baixo onde o arroio Minhoquinha, que logo acima faz uma curva antes de chegar na ponte, havia transbordado e jogava água para o meio da estrada.
O carro parou. A correnteza começou a puxá-lo para o leito do arroio. Não havia o que fazer. Geneci e Luiz gritaram por socorro, algo testemunhado pela vizinha Daiane Aline Borstmamn, 20 anos, atendente.
No meio da situação desesperadora, Geneci ligou para Gabrieli Guedes, 28 anos, responsável por um espaço infantil, uma de suas duas filhas de uma relação anterior. A chamada, feita às 6h15, durou apenas segundos: só deu tempo de Geneci pedir ajuda, pois havia caído no arroio.
Gabrieli tentou falar novamente com a mãe, mas já não era mais possível ter contato. Ao lado do marido Alexandre Seckler Furlan, 30 anos, que trabalha com montagem de móveis e fretes, foi o mais rápido possível em direção à casa da mãe. A visibilidade era mínima com a escuridão e chuva forte. Ao chegaram às margens do arroio, a água batia na ponte e o carro já havia desaparecido.
A água, que já havia dado tantas alegrias para os dois amantes da pescaria, arrastou o carro para longe.
Apenas à tarde, com o nível do arroio mais baixo, que o veículo foi encontrado, por volta das 14h30, pelo morador ribeirinho Jorge da Silveira e o vereador Jair Joel Radtke, que comunicou os Bombeiros.
O corpo de Geneci logo foi encontrado e reconhecido pela família, que pôde fazer uma despedida para ela na quarta-feira (18). O velório ocorreu na capela São Joaquim da Comunidade Católica de Candelária. O corpo foi enterrado no Cemitério Municipal. Além de Gabrieli, Geneci é mãe de Lavínia e avó de Sophia, Valentim, Cecília e Arthur. “Ela era uma pessoa muito boa e preocupada demais com as filhas e os netos”, desabafa o genro Alexandre.
O drama da família, todavia, ainda não tivera seu fim. Luiz segue desaparecido e seu destino é incerto. “Meu pai era um herói pra nossa família, nunca nos deixou faltar nada, sempre nos ajudando em todas as áreas, um guerreiro, um sonhador, meu companheiro das pescarias”, conta Deivid Eduardo Jung Rodrigues, 27 anos, mecânico assim como o seu pai Luiz, também de uma outra relação, assim como os irmãos Tiago e Luiza.
“A minha madrasta era uma pessoa incrível. Sempre com um sorriso no rosto, uma mulher batalhadora também”, diz Deivid.
BUSCAS POR LUIZ SEGUEM
Conforme informações do capitão Juvenal Schneider, comandante da 1ª Companhia do 6º Batalhão de Bombeiro Militar, foram empregadas duas equipes de busca e uma de mergulho na terça-feira (17); duas duplas de busca na quarta-feira (18); e duas duplas de busca e uma equipe de mergulho na quinta-feira (19). O capitão também ressalta que a família foi avisada que Luiz provavelmente foi ejetado e não caiu próximo ao local.
