A Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, uma das mais importantes do mundo, divulgou uma nova edição de sua lista com os pesquisadores mais influentes do mundo. Entre eles está um candelariense: Joel Henrique Ellwanger. Para ele, figurar nesse rol foi uma grata surpresa. “Geralmente os pesquisadores que são incluídos nesta lista já têm uma idade mais avançada e um tempo de carreira bem longo. Eu tenho 32 anos e estou apenas iniciando na carreira”, considera.
A lista realizada utiliza critérios independentes para a escolha dos pesquisadores, como métricas de citação padronizadas, como as informações sobre citações, coautoria e um indicador composto. O banco de dados inclui uma relação que mostra o impacto do pesquisador ao longo da carreira e também uma relação sobre o impacto do pesquisador somente em 2020 – na qual Joel foi indicado.
TRAJETÓRIA- Joel cresceu no bairro Nova Germânia e estudou na escola Professor Penedo durante o ensino fundamental e cursou o Ensino Médio na escola Guia Lopes. “Confesso que não era um aluno muito disciplinado, mas a educação que recebi lá foi muito boa. Gostava bastante das aulas das professoras Lidiane Menezes e Solange Borstmann”, recorda.
Apesar de ter iniciado a carreira de pesquisador recentemente, seu interesse pela área vem desde a infância. “Quero ser pesquisador desde o dia que assisti ao filme Jurassic Park quando era criança e fiquei fascinado com assuntos como fósseis, DNA e clonagem. Sabia desde aquela época que seguiria uma carreira científica, só não sabia exatamente em qual área. Curiosamente, meu doutorado foi em genética, um tema central no filme que me inspirou”, conta.
Em 2006 ingressou em Nutrição pela Unisc. Durante o curso, percebeu que seu interesse pela pesquisa ia além do segmento alimentar. Formou-se em 2010 e já em 2011 decidiu realizar uma segunda graduação em Ciências Biológicas. Enquanto cursava biologia, iniciou o mestrado em Biologia Celular e Molecular pela UFRGS, que concluiu junto com a segunda graduação. “Durante meu mestrado eu ainda trabalhava na Unisc, então eu me dividia entre Candelária, Santa Cruz do Sul e Porto Alegre durante a semana para dar conta dos meus compromissos nas três cidades”, relata. Em 2015, quando entrou no doutorado em Genética e Biologia Molecular, Joel foi definitivamente para a capital.
Após receber o título de doutor, no ano de 2019, participou de uma seleção de pesquisador em nível de pós-doutorado no Departamento de Genética da UFRGS, com outros 17 candidatos e obteve o primeiro lugar e onde trabalha atualmente, com o estudo de doenças infecciosas e parasitárias, no Laboratório de Imunobiologia e Imunogenética coordenado pelo professor Dr. José Artur Bogo Chies, um dos maiores pesquisadores em imunologia do Brasil.
PANDEMIA- A chegada da pandemia mudou drasticamente a rotina do pesquisador. O acesso aos laboratórios ficou restrito e com isso, teve que se adaptar ao trabalho remoto. Mas não foi apenas dessa forma que o vírus influenciou em seu trabalho. No início da pandemia, Joel colaborou com as testagens do vírus SARS-CoV-2 na UFRGS. Com o passar do tempo, pode retomar suas pesquisas e se divida entre laboratório, atividades de campo e home office.
Para o cientista, esse período evidenciou para grande parte da população o papel fundamental da ciência no desenvolvimento de vacinas e vigilância epidemiológica. No entanto, ele destaca que é preciso fazer mais nesse sentido. “A ciência tem um impacto direto sobre a saúde da população e o desenvolvimento da sociedade. Esta mensagem ainda não está clara para muitos indivíduos”, aponta.
Joel conta que o trabalho remoto trouxe aprendizados por exigir muita organização e disciplina para cumprir os seus desafios como pesquisador. Mas para ele, a maior lição que esse período dá para toda a humanidade é sobre a necessidade de reduzir a degradação ambiental e exploração da vida selvagem. “Caso contrário, novas pandemias como a COVID-19 surgirão com cada vez mais frequência”, alerta.
INCENTIVO DA FAMÍLIA- Filho dos professores Gustavo Ellwanger e Denise Ellwanger, Joel sempre foi incentivado pela família a seguir a carreira acadêmica. Além dos pais, ele destaca a sua avó, Neide Rehbein, que também teve um papel muito importante na sua formação e, assim como toda a família, ficou extremamente orgulhosa com suas conquistas.
E Joel não é o único pesquisador da família. Sua prima, Talise Ellwanger, atua na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na área de bioquímica. “Venho de uma família de professores e nós sempre fomos muito incentivados a permanecer na pesquisa, mesmo com os poucos incentivos financeiros e toda a carga de trabalho e competição que são comuns na vida acadêmica”, destaca.
Inspiração para futuros cientistas
Joel espera que a sua trajetória, como egresso de escola pública do interior do estado, sirva de inspiração para os jovens candelarienses que assim como ele, pensam em se tornar pesquisadores. Ele destaca que Candelária, é o um local muito propício para a formação de novos cientistas. “Candelária é o cenário perfeito para quem se interessa por ciência, pois temos muitos fósseis e uma diversidade biológica muito grande e ainda pouco estudada”, destaca.
O pesquisador relata que nos últimos anos, a redução de verbas destinadas à ciência nacional destinadas para pesquisas, bem como pagamentos de bolsas para graduação e pós-graduação por parte do governo tem sido cada vez maior. “Nosso laboratório recebeu uma verba da CAPES durante a pandemia. Porém, fomos exceção porque trabalhamos com doenças infecciosas, um tema prioritário durante a pandemia. O cenário geral do Brasil é oposto”, conta.
Mesmo com o momento de baixos investimentos na ciência nacional, que pode ser desanimador para os jovens que consideram seguir essa carreira, o pesquisador se mantém otimista quanto ao futuro. “Os baixos incentivos à pesquisa e à educação vistos atualmente são resultados da gestão do atual governo federal. Acredito que após o término deste governo, espero que em 2022, o cenário melhore bastante”, afirma.