
A maior tragédia climática da história de Candelária completa um ano. A reportagem especial do JC revisita a Linha do Rio, uma das áreas mais afetadas, para contar a história de superação de uma família que viu tudo ruir — menos a fé e a esperança.
O amanhecer de 30 de abril de 2024 ficou gravado na memória dos moradores de Candelária. A enchente que atingiu o município provocou destruição em larga escala, deixando casas submersas, famílias desabrigadas e marcas emocionais profundas. A localidade de Linha do Rio, interior do município, foi uma das regiões mais afetadas pela força das águas. Vilson Roos, morador da comunidade e motorista do transporte escolar da Escola São Paulo, relembra com detalhes os momentos de pânico vividos ao lado da família. “Estava monitorando a água durante a noite. Por volta da 1h da madrugada, entrou só um pouco dentro de casa. Mas na manhã de terça-feira, a situação piorou e, em 15 minutos, a água já estava na altura do peito”, relata.
Na residência estavam Vilson, a esposa, a filha, o genro e os netos. Ele conta que, com a força da correnteza, a casa da filha — localizada nos fundos — foi completamente arrastada, levando junto todos os móveis e pertences. Na casa principal, apenas a parte construída em alvenaria resistiu. “Foi Deus e a estrutura de alvenaria que nos salvaram. Ficamos até as 17h com água até o peito. Improvisei uma canoa com uma geladeira para colocar meus netos em cima, caso a casa desabasse. Mas, graças a Deus, ela resistiu”, conta, emocionado.
Superação
A cena, segundo Vilson, foi de impotência e medo: ver os netos em risco de vida e não poder fazer nada. Mesmo diante da perda quase total, a família decidiu retornar à residência após o recuo das águas. “Foi uma decisão em conjunto. A casa é o que temos, não dá pra deixar pra trás”, afirma. O apoio da comunidade foi fundamental nos dias e semanas seguintes à catástrofe. Amigos, vizinhos, autoridades e voluntários se uniram para prestar auxílio às famílias atingidas. Vilson não esquece a solidariedade que recebeu. “Fomos agraciados com muitos amigos, que eternamente terão nossa gratidão. O prefeito Rim e tantas outras pessoas. Só posso agradecer a todos”, destaca.
Assim como Vilson e sua família, que continuam vivendo na localidade, outras famílias seguem reconstruindo, pouco a pouco, o que foi perdido, transformando a dor em força para seguir em frente. “Ainda há muito a ser feito. As marcas da enchente permanecem nas ruas, nas estruturas e, principalmente, nas lembranças. Mas também permanece a certeza de que a união da comunidade é capaz de sustentar a reconstrução — não apenas de casas, mas de vidas inteiras”, conclui o motorista.