Tragédia anunciada – por Léla Mayer

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Se é verdade que gentileza gera gentileza, é bem verdade que violência gera violência. E a emoção da raiva, do ódio, do medo, contagia muito mais rápido que a da bondade e da gentileza. Se você pensa que não, procure analisar quão rápido se disseminam nas redes sociais notícias bacanas, potentes, como uma experiência pedagógica de sucesso numa escola pública, por exemplo. Quantas reações, quantos comentários, quantos compartilhamentos? Vários!! Sim, vários. Mas muito menos do que recebem as notícias fake ou as medidas e colocações bárbaras (da barbárie como medida) produzidas diariamente pelos doutores da lei e do caos e seus idólatras.

É muito fácil deixar-se levar, deixar-se tomar por esses sentimentos primitivos, eles mobilizam muita energia dentro da gente e partimos imediatamente para a ação – reagimos através da palavra violenta, do soco na cara, do murro na mesa – e não da reflexão, do diálogo. Até porque, quem dissemina mentira e ódio não quer dialogar. E assim vamos, nos animalizando cada dia mais.

A tragédia ocorrida esta semana numa Escola Pública na Região Metropolitana de São Paulo, onde dois jovens invadiram a escola armados, deixando vários mortos e feridos, chocou muitos brasileiros. Penso que deveria ter chocado a todos, mas não, chocou apenas os que ainda preservam algum senso de humanidade. Veja bem, logo em seguida, vimos senador dizendo que se os professores estivessem armados a tragédia teria sido menor. Houve também deputado dizendo que “armas não matam ninguém, quem mata são pessoas”. Preciso concordar, é verdade, tão verdade quanto o fato de que, se aqueles meninos tivessem livros no lugar de armas, não teriam matado ninguém.

O que choca mais ainda é tamanha irresponsabilidade frente a barbárie. O que entristece é que esse ódio é alimentado todos os dias por quem deveria combate-lo. Para onde querem nos levar esses senhores da lei e do caos? Parece que violência nenhuma é suficiente para desarmar seus ódios e preconceitos. Brincam com vidas humanas, como se estivessem a jogar vídeo game.

Administrar um país deveria exigir responsabilidade, ética e empatia. Mas não. Estão lá por que vivermos numa democracia (ainda que torta), essa mesma que tentam colocar abaixo, dizendo que tem mesmo é que matar, tem mesmo é que torturar, tem mesmo é que reprimir, tem mesmo é que armar para deixar que se matem. É porque vivemos numa democracia, e num país onde o ódio e o preconceito sempre existiram – só estavam bem maquiados – é que estes senhores encontraram espaço para transbordar não apenas sua infantilidade, mas seus preconceitos, sua falta de empatia e senso crítico.  Parafraseando Lupicínio Rodrigue: Empatia foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora e é por isso que eu gosto da memória onde sei que a utopia ainda mora.

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