Testemunhas das idas e vindas da sociedade. Essa é uma definição perfeitamente cabível para as estações rodoviárias. Locais emblemáticos. Os pisos destes lugares observam os movimentos apressados dos passageiros e seus eventuais comportamentos incompatíveis com boas maneiras higiênicas. As paredes, mesmo vítimas da possível ação implacável do tempo, sustentam a estrutura e até fazem um bico de apoiadoras ou saco de pancadas motivados pelo desconto da impaciência alheia.
Vendedores ambulantes tentam vender seu peixe com promoções instantâneas e baratas demais para convencer, andarilhos suplicam por uma moedinha e assuntos diversos viram as pautas do povo, com especial destaque aos horários equivocados das linhas… Por sua vez, os funcionários vendem os bilhetes para as jornadas de cada dia ou o ponto inicial para novas vidas. São os emissários, mesmo sem a percepção, de
É um centro de encontros e despedidas. Por um lado, da expectativa porventura incontrolável pelo momento de uma grande chegada. Do sorriso espontâneo ao avistar o ônibus no qual se encontra a pessoa amada. Da ocorrência de beijos intensos e demorados, seguidos por abraços acalorados. Um turbilhão de sentimentos aflorados pela simples presença de um ser. Claro, simples aos olhos de fora, pois “estranhos” são incapazes de mensurar o tamanho do significado.
As mesmas flores que proporcionam o perfume e frescor de uma companhia agradável e o “revival” de grandes parcerias, também apresentam armadilhas: espinhos. De certa forma, pontiagudos. As despedidas são o componente dramático do enredo passageiro, marcadas por corações apertados, caras fechadas, lágrimas derramadas, mágoas visíveis ou, dependendo do caso, mãos erguidas para o céu em sinal de agradecimento. Ocorrem todos os dias, de forma discreta ou exposta para quem quiser escutar. Cada uma, com uma circunstância própria e recheada de ligamentos, como se fossem as raízes de uma planta espalhadas pelo interior da terra.
O ponto de ônibus pode marcar o fim de um relacionamento, o retorno de um cidadão prezado para sua terra, o início daquela viagem dos sonhos ou, sem nos prolongarmos muito na imaginação, apenas uma volta para a casa depois de um dia normal. Nessa infinidade de situações se encontra a magia da rodoviária, o reduto da reunião das particularidades de diferentes raças, credos, orientações. Uma ampla miscelânea.
Quanto às linhas, a única distinção entre a Comum, semidireta ou Direta é o tempo de viagem. Se houver disposição para analisar a espinha dorsal, veremos o quanto são semelhantes. Afinal, cada coletivo faz mais do que uma mera viagem. Os motoristas carregam trajetórias diversificadas, histórias únicas, transportam tanto o grande amor quanto o maior algoz de alguém, esperanças de uma vida melhor e são cúmplices involuntários das corriqueiras operações de fugas de determinadas realidades. Os terminais dão o empurrãozinho e as rodas tratam de conduzir as escritas para os novos capítulos.
Até a semana que vem, pessoal!