
O preço da carne bovina disparou nas últimas semanas em todo o país. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), alguns cortes, como o coxão mole e o contrafilé tiveram alta de quase 50%.
Em Candelária, a situação não está muito diferente. Desde o aumento, o valor dos cortes bovinos tem pesado no bolso do consumidor que realiza o tradicional churrasco de final de semana, e, que agora, desembolsa cerca de 25% a mais no valor do produto em comparação ao mês passado.
Nesta semana, a reportagem do JC pesquisou preços dos principais tipos de cortes ofertados nos mercados da cidade, conversou com proprietários e gerentes dos estabelecimentos para verificar como está a situação no município e como eles estão lidando com o aumento repentino, bem como as alternativas adotas para não afastar os clientes.
ALTERNATIVAS
O impacto causado pelo elevação do preço da carne bovina no município já é notório nas gôndolas dos supermercados, o que fez os consumidores encontrarem mecanismos para tentar burlar o aumento e até apostar em alternativas, caso do empresário Eduardo Borstmann, de 31 anos. “O preço aumentou bastante, costumo fazer churrasco aos fins de semana e optava por apenas determinados tipos de carne, mas agora tenho de fazer uma pesquisa antes de investir e também mudar para cortes mais baratos para manter essa mesma rotina”, destaca.
Mercados já sentem queda no consumo
Para os proprietários dos estabelecimentos que realizam a comercialização da carne de gado, a estratégia tem sido reajustar o preço o mínimo possível, para tentar não diminuir as vendas, mas abrindo mão da margem de lucro sobre o produto. “É um aumento que causa preocupação. Nós tentamos subir o preço em cerca de 20% a 25%, para que o consumidor não sentisse tanto no bolso, mas ainda assim, com a visibilidade que a mídia tem dado, as pessoas acabam tirando o pé e buscando alternativas mais baratas”, destaca o proprietário do Supermercado Wollmann, Adriano Wollmann.
Wollmann ainda comenta que o aumento do preço da carne sofre influência direta da greve dos servidores estaduais. O empreendimento, que também possui um abatedouro, sofre com a paralisação dos fiscais agropecuários do Rio Grande do Sul, que desde o dia 26 de novembro, em manifestação ao atraso e parcelamento de salários, não estão fazendo a emissão de Guias de Trânsito Animal (GTAs), documento necessário para o transporte de animais para o abate. “São diversas causas que nos forçam a mudar o valor. Exportações, dólar, greve, tudo tem o seu peso, mas tentamos até onde dá contornar isso”, destaca o proprietário.

No Supermercado Único, o reflexo é bem semelhante. Segundo a gerente geral do estabelecimento, Ana Paula Cezar, o aumento tem afetado a toda a cadeia de fornecimento. “O maior preço tem influência em quem vende, quem produz, e em quem fornece, é uma bola de neve difícil de frear e que afeta a todos”, comenta.
A gerente revela também que com o aumento do preço da carne, o mercado teve uma queda na venda dos cortes em cerca de 20%, e um crescimento em outros tipos de carne. “O consumidor acaba sentindo o aumento, e com isso migra para o frango, para o porco e outros cortes mais baratos. É uma opção bem mais em conta, ainda mais se levarmos em consideração o final de ano”, expõe.
Restaurantes tentam contornar a alta da carne

Em meio ao aumento da carne bovina, um dos setores que também acaba sendo afetado é o gastronômico. Os estabelecimentos do ramo, como restaurantes e lancherias, acabam tendo que se readequar à alta no preço da proteína animal, preferência da clientela nos bufês.
Novas variedades acabam sendo oferecidas, os cardápios são alterados, e o preço do almoço a quilo e também no livre acabam sofrendo pequenos aumentos, tudo para não afastar os clientes dos estabelecimentos.
A alternativa mais simples seria o repasse para os consumidores, mas na prática, os proprietários acreditam que isso resultaria em uma fuga da clientela, que buscaria readequar a alimentação para se encaixar no orçamento.
Conforme um dos proprietários do Restaurante Michels, Adriano Moraes, a alta da carne bovina fez com que o estabelecimento procurasse formas de contornar os valores. “Nós tentamos fazer um repasse mínimo ao consumidor. Tivemos que aumentar em menos de 5% o preço dos almoços, o que é um valor bem menor se comparado à alta da carne, então, de certa forma, estamos tendo prejuízo”, destaca.
No Restaurante do Pingo, também houve aumento no preço do almoço, após quase dois anos sem alterações . “Do preço do nosso almoço, 65% corresponde à carne, ou seja, o nosso repasse não representa quase nada perto do valor da carne bovina, então, se não fosse nosso movimento, estaríamos numa situação preocupante”, salienta o responsável pelas compras do estabelecimento, Jorge Henrique Larger, o “Pingo”. Apesar do aumento nos preços do almoço, o restaurante manteve o mesmo cardápio.
Entenda as razão para o aumento no preço da carne:
>> O principal motivador para o aumento dos preços da carne bovina no Brasil é o surto de peste suína na China, responsável pela morte de 40% de todo o rebanho de porcos do país asiático, maior consumidor da proteína do animal do planeta. Com o surto, a China, que detém a maior população humana do mundo, passou a consumir mais carne vermelha, e, em consequência, provocou um aumento na procura e importação, pressionando os preços no Brasil, que detém o maior rebanho comercial bovino do mundo.
>> O estímulo às exportações, além da peste, é motivado também pela desvalorização do dólar, cotado a R$4,09 e pela comemoração do ano novo chinês e período de entressafra bovina na Ásia. Fatores que ajudaram a encarecer o valor da carne no varejo.