Historicamente, a utilização de bicicletas em Candelária é uma marca registrada. Seja pelo terreno favorável ou pela rica extensão de estradas e trilhas no interior do município, a prática sempre contou com muitos adeptos. Durante a pandemia de coronavírus, basta percorrer as ruas do município, principalmente durante os finais de semana, para notar um “boom” da modalidade. Inúmeros grupos, com integrantes de diversas idades e gêneros, se reúnem para percorrer trechos de longa distância em busca de diversão, contato com a natureza e melhor condicionamento físico.
O aumento de praticantes é reflexo da busca por uma alternativa às restrições e o isolamento impostos pela covid-19. Ginásios e clubes foram proibidos de ter atividades e as academias sofrem com limitações. É nesse contexto que se insere o ciclismo. Por ser um esporte realizado ao ar livre e individual, foi a saída encontrada por grande parte da população.
Tal modificação teve impacto direto no comércio especializado no ciclismo em Candelária. Na Loja Soares, conforme explica o proprietário Fábio Soares, a comercialização de bicicletas e também de equipamentos teve um salto de 70% em relação ao período anterior à pandemia. O aumento das vendas é ainda maior se comparado com a mesma época no ano passado. “Foi uma grande surpresa. Ninguém estava preparado e esperava essa explosão no consumo. No verão é sempre normal termos boa procura, mas no inverno as vendas sempre caem. Neste ano, a pandemia fez com que as vendas subissem também no inverno, o que a gente comemora”, destaca.
Em outra loja especializada, a Império do Pedal, o proprietário Joel Scheeren sentiu as vendas triplicarem durante o período da pandemia, inclusive superando o período da virada de ano, quando a loja duplica a comercialização. “As pessoas acabam vendo a bicicleta como um meio alternativo para sair da rotina, além de ser uma modalidade que se aproxima da natureza e ainda favorece a saída de casa durante a pandemia, tudo isso colaborou com esse incremento”, ressalta.

FALTA DE PRODUTOS
A grande demanda, assim como os efeitos da pandemia na indústria especializada e na importação de equipamentos e materiais, fez com que os produtos mais em conta e que possuem boa qualidade passassem a fazer falta no mercado. Conforme Soares, marcas famosas, como a Caloi, diminuiu em 20% as suas entregas. A principal procura é por bicicletas aro 29, utilizadas em sua maior parte para percursos no interior.
Esses modelos possuem maior tração e atingem mais velocidade que as bicicletas menores, ganhando assim a preferência, principalmente de quem entra em grupos de ciclismo e procura por desafios maiores. “É uma demanda que ninguém estava esperando. Nós, além de comercializarmos, também montamos bicicletas, e para que elas sejam montadas são necessários insumos, os quais não estão chegando. Eu ainda estou conseguindo manter algum estoque, mas a linha mais básica não está sendo muito fácil de repor”, ressalta Soares.
VAREJO
A comercialização das magrelas também tem aumentado nas lojas de varejo da cidade. Na Lojas Benoit, por exemplo, notou-se um aumento gradativo nas vendas durante o período da pandemia. De acordo com a gerente Mariza Bald, um grande público tem se interessado pelos produtos, os quais são procurados como meio alternativo, tanto de transporte como para a prática esportiva. “A gente tem notado uma grande demanda. Nos últimos tempos o consumidor tem migrado para esse mercado pela economia e também por ser um mercado bem vasto”, salienta.
Diferente das lojas especializadas do município, na Benoit o público tem procurado por bicicletas aro 26. “É um consumidor que busca produtos para o dia a dia, ou está começando a praticar, aí optam por essa linha”, comenta. Além disso, a loja não sofreu com a falta de produtos. Antes da pandemia um grande estoque foi feito e conforme as vendas iam ocorrendo, os produtos iam sendo renovados.
“Comecei no início do ano e me apaixonei”
Decidida a ter uma vida mais saudável e com maior contato com a natureza, a secretária Vanessa Vidal, de 34 anos, foi uma das pessoas que resolveu ingressar na modalidade no início deste ano. Com a chegada da pandemia, ainda em março, Vanessa começou a montar uma rotina, resolveu investir em um equipamento novo e passou a todo sábado, a se reunir com mais quatro amigos para fazer diversos percursos pelas estradas do município e da região. “Eu comecei com uma bicicleta normal, dessas de passeio, como uma forma de tratar a ansiedade. Com o tempo fui pegando o gosto e me apaixonei pela modalidade e pela sensação de liberdade que ela te dá, a sensação de aventura e também pelas amizades que são criadas”, destacou.
Vanessa relembra que no início percorria poucos quilômetros, mas já chegou a andar trechos de até 80 quilômetros. “O tempo passa, fica se distraindo no caminho e conversando, quando vê chegamos. Assim conheci lugares que nem imaginava que existiam ou que iria conhecer algum dia, então é muito gratificante”, ressalta.
De acordo com a ciclista, além de fortalecer as amizades, auxiliar na saúde corporal, a modalidade também ajuda na saúde mental. “É sempre bom tirar um tempo para a gente. Com o ciclismo isso é possível, não há estresse, e se eu puder dar uma dica, é para que todo mundo invista um pouquinho e comece, pois é algo que traz inúmeros benefícios”, relata.
Vanessa ainda relembra que sempre há a possibilidade de se passar dificuldades, mas a recompensa é maior. “Se estiver chovendo, a gente vai com chuva igual, não há empecilhos, é o gostar de aventura que motiva, por isso quero continuar praticando, conhecer outros lugares e chegar ainda mais longe”, completa.
