Pacientes e autoridades de Herveiras questionam atendimento no Hospital Candelária

Denúncia veio a tona após mortes de bebês registradas no setor obstétrico da casa de saúde

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Eleição do Hospital Candelária ocorre a partir das 19h15 na sala de reuniões da casa de saúde - Crédito: Arquivo / JC

Referência regional na área obstétrica, o Hospital Candelária está sendo alvo de questionamentos pelo serviço prestado para pacientes SUS. Em reportagem publicada pelo Jornal Serrano, de Barros Cassal, na última terça (5), a casa de saúde candelariense foi denunciada por quatro vereadores do município de Herveiras, que relataram, em sessão ordinária realizada no dia 21 de setembro, ter ocorrido mau atendimento para mulheres grávidas e o registro de dois óbitos de recém-nascidos envolvendo moradores do município. Os casos foram relatados para a 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (13ª CRS), que de forma sigilosa, está averiguando a denúncia.
Em entrevista concedida ao Jornal Serrano, o casal Vandoir e Loreni Seibert, ambos de 24 anos, moradores de Herveiras, relataram o drama que vivenciaram na unidade de saúde candelariense. Loreni contou que estava com dores e havia sofrido um sangramento. Ao chegar no hospital, disse que houve demora no atendimento. Quando foi atendida, a equipe verificou que o bebê estava com os batimentos cardíacos baixos e que recebeu oito injeções para fortalecer o pulmão da criança.

Vandoir e Loreni Seibert relataram demora no atendimento e que bebê estava com batimentos cardíacos baixos – Crédito: Jornal Serrano

A moradora lembra que seguia com dores e sentia que o bebê poderia estar “embolado”. No dia seguinte, devido às fortes dores, Loreni relata que foi encaminhada para a sala de parto. “A bolsa não se rompia e então me levaram na maca e me deixaram um tempo do lado de fora da sala de parto esperando. Não sei o que estavam fazendo, porque até a enfermeira, que estava comigo, estranhou estarem demorando tanto. Após horas de dor e sofrimento, o nosso bebê nasceu com uma coloração que parecia não ser normal. Questionamos a médica e ela relatou que já não havia mais nada a fazer, pois a criança já estava sem vida”, lembra a mãe sobre o nascimento prematuro e sem vida da pequena Kyara Helena Seibert.
O casal frisou que a gravidez não era de risco e que durante o pré-natal, as ecografias mostravam que estava tudo bem com o bebê. “Acreditamos que se tivessem nos dado a devida atenção, não teria acontecido. Se tivessem feito um melhor acompanhamento já que o batimento do coração da nenê estava fraco, poderiam ter feito alguma coisa. Demorou demais para eu ir à sala de parto”, disse a mulher.

Queda de bebê em nascimento e morte

O Jornal Serrano também cita na reportagem o caso de Liane Rodrigues dos Santos, 36 anos. Ela também ressaltou o péssimo atendimento prestado pelo Hospital Candelária. Conforme Liane, a partir do terceiro mês de gestação, ela apresentou problemas de pressão alta e passou a ter gravidez de risco. A gestante deu entrada no Hospital Candelária dia 15 de setembro, uma quarta-feira, e estava acertado que o parto seria cesáreo, sendo agendado para sexta (17), mas nada ocorreu como planejado. A moradora contou que devido a gestação de risco, a equipe de enfermagem começou a induzir o parto normal.

Liane dos Santos relatou que bebê sofreu queda no chão durante nascimento – Crédito: Jornal Serrano

 

Ela relata que no sábado (18) à noite, chamou as enfermeiras e sentiu que a criança iria nascer. “Elas falaram que não era assim, teimando que não estava na hora. Comecei a ter contrações mais rápidas, então, depois de um bom tempo, fui para sala de parto, forcejei para nascer e a médica disse que não estava na hora. Eu desci da mesa de parto e já caminhando, veio uma contração. Eu me abaixei um pouco e meu filho nasceu, caindo com a cabeça no chão. Nisso, as enfermeiras largaram o celular e vieram me socorrer, e gritaram para médica, que nem na sala de parto estava mais”, relata a mãe.
Após a queda, o bebê foi socorrido e colocado no berçário. A mãe relata que perguntou para as enfermeiras sobre o bebê ter caído no chão. “Me disseram que isso era procedimento normal. Depois de cair, ele chorou. Colocaram ele no berçário, mas não me deram para segurar em momento algum. Durante seis horas eu não pude ver o meu filho, e nem vieram no quarto ver como eu estava. Meu marido ficou no quarto onde nosso filho estava, então as enfermeiras disseram que ele poderia ir dormir e que ele estava bem”, relembra.
Durante a madrugada, o bebê não teria resistido a uma parada cardíaca. “As 3h vieram nos chamar no quarto que o nosso filho estava sofrendo paradas cardíacas. Meu marido foi rápido até onde nosso pequeno estava e viu que a equipe estava fazendo massagem e ele estava bem pretinho já. Até que eu consegui chegar lá, não tinha mais o que fazer, e perguntaram se queríamos pegar nosso filho um pouco no colo, mas ele já estava sem vida. No velório, ele estava com a cabecinha inchada”, lembra a mãe.
Liane relatou a sua revolta com o atendimento prestado pela casa de saúde candelariense. “Está sendo bem difícil ter que aceitar esse mau atendimento do Hospital Candelária. A médica me tratou como se fosse um bicho. Quantas outras famílias terão que passar por isso para que algo seja feito?”, finalizou.
(As informações que constam nesta reportagem é de autoria do Jornal Serrano e estão publicadas com autorização da direção do jornal)

Secretária quer a troca de médica

Ouvida pela reportagem do Jornal de Candelária na tarde dessa quarta (6), a secretária de Saúde de Herveiras, Rosuita Carla da Silveira, confirmou que além dos dois casos citados, também foi registrado um terceiro caso de óbito, sendo duas mortes fetais e uma neonatal. Os casos ocorreram neste ano. “Temos o relato de mães e o comitê averiguou os fatos e constatou que houve negligência em algumas situações”, frisou.
Rosuita comentou o contraponto do diretor Aristides Feistler ao Jornal Serrano onde, segundo a secretária, ele teria entrado em contradição ao dizer que não havia reclamações e queixas. “É uma fala que não condiz com a realidade. As reclamações já vêm de algum tempo e são relatos desde que o Hospital Candelária se tornou referência para Herveiras”, frisa.

Secretária de Saúde de Herveiras Rosuíta Silveira destaca sua preocupação com situação – Crédito: Jornal Serrano

A secretária destaca que as principais reclamações são relacionadas ao trabalho de uma médica obstétrica que não estaria realizando o trabalho de forma adequada com os pacientes. “Não é problema geral do hospital e sim a atuação desta profissional. São várias ocorrências e não sabemos como esta médica ainda está atuando e porque não cassaram o registro dela”, destacou. Rosuita frisou que está bem preocupada e que o município se colocou à disposição para auxiliar o hospital com recursos para trocar a profissional. “É preciso providenciar isso o quanto antes e esperamos que o Hospital tome uma posição”, frisou.
Reunião na 13ª Coordenadoria Regional de Saúde debateu problema
A secretária de Saúde de Herveiras, Rosuita Carla da Silveira, solicitou uma reunião com a coordenadora de saúde, Mariluci Reis e equipe técnica da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), secretários municipais de saúde de Vale do Sol e Candelária e administração do Hospital de Candelária, para tratar da situação.

Reunião debateu problemas na área obstétrica do Hospital Candelária – Crédito: Divulgação / JC

 

O encontro realizado no último dia 27 de setembro, na sede da 13ª CRS, em Santa Cruz do Sul, abordou as dificuldades que os municípios estão enfrentando com a referência de obstetrícia no Hospital Candelária. A direção do Hospital reconheceu que tem problemas, principalmente pelo déficit de profissionais dessa área que queiram trabalhar na instituição. A partir dessas informações, os municípios, com apoio da 13ª CRS, decidiram traçar uma estratégia para auxiliar o Hospital Candelária na contratação de médicos obstetras e, assim, melhorar o serviço oferecido às pacientes e familiares.

Hospital Candelária abrirá sindicância interna

Em nota de esclarecimento enviada ao JC na manhã de quinta (7), a direção do Hospital Candelária informou que, em atenção às publicações em redes sociais, a casa de saúde está apurando as denúncias realizadas referentes aos atendimentos na Unidade Obstétrica da instituição e que será realizada sindicância interna para avaliação dos fatos.

Diretor do Hospital, Aristides Feistler, encaminhou nota confirmando que instituição irá apurar os fatos em sindicância interna – Crédito: Arquivo / JC

A direção reforça o compromisso em contribuir para a investigação dos óbitos, que é realizada pelos Comitês Municipais e Regionais de Investigação de Óbito Materno, Infantil e Fetal e esclarece que os dados de cada atendimento não podem ser divulgados e vinculados na imprensa para proteção dos direitos fundamentais dos pacientes e para cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Por fim, a casa de saúde informou que se solidariza com as famílias e reforça o compromisso em trabalhar para a qualificação dos serviços prestados.

13ª Coordenadoria Regional de Saúde

A reportagem do JC também tentou contato com Marilúci Reis, coordenadora da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde, que preferiu não se manifestar sobre o caso, atendendo orientações em virtude da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais ( LGPD), e das disposições contidas na Lei de Acesso à Informação – LAI, relativa à proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, informando que a Procuradoria Geral do Estado orientou a secretaria Estadual de Saúde (SES)no sentido de que o acesso a informações junto à SES deve ser solicitado pelos canais da Ouvidoria do SUS ou da Lei de Acesso a Informações.

 

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