No município, prejuízos causados pela estiagem ultrapassam os R$ 62 milhões

Prefeito decretou situação de emergência na última sexta-feira (10) e já teve pedido homologado pelo Governo do Estado

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Nas lavouras de soja, é notório o desenvolvimento irregular das plantas. Foto: Heloisa Corrêa/JC

Olhar para o céu e rezar. Essa tem sido a prática de muitos produtores rurais nesta safra, já que o cultivo depende diretamente do clima – que está uma bagunça, nos últimos meses. Veja só: em outubro, houve chuva acima da média histórica, causando quebra de até 15% na produção de tabaco e atraso na semeadura da soja e do arroz; desde novembro, no entanto, a estiagem está castigando todas as culturas. Em Candelária, a estimativa é de que o prejuízo total seja de R$ 62,8 milhões.

A cultura mais atingida é a do tabaco. De acordo com o coordenador de mutualidade da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Carlos Loewe, já está confirmada quebra de 20% a 25% na produção do município. Ele explica que aqueles produtores que plantaram fumo cedo, em junho, não foram tão afetados pela estiagem. “Quando a seca agravou, a maioria já havia colhido toda a lavoura”, relatou. Por outro lado, os fumicultores que iniciaram o plantio entre agosto e outubro tiveram mais prejuízo.

O motivo da quebra, conforme Loewe, é que o calor intenso fez com que os agricultores não colhessem as folhas mais baixas da planta, conhecida como baixeira. “Então, foram perdidas essas folhas. Para compensar, quem não despontou o pé, vai tentar colher as folhas mais altas. Aqueles que já tinham tirado a flor perderam”, explicou. Em virtude do clima mais seco na reta final da produção, o coordenador de mutualidade orienta que os produtores devem ter cuidado redobrado com as estufas, prevenindo problemas e não sobrecarregando as estruturas.

ENCAMINHAMENTO
Em 2018, Candelária registrou 182 milímetros de chuva em dezembro. No mesmo período no passado, o acumulado foi de 33 milímetros. A quantidade representa 18% da média de chuvas. Esse quadro alarmou os produtores e, consequentemente, diversos representantes da população rural, que viram a necessidade de uma atitude. Dessa forma, a Câmara de Vereadores, ainda no dia 30 de dezembro, indicou o estudo da possibilidade de decretar situação de emergência.

O Sindicato Rural também se mobilizou. “Estamos sempre atentos às questões climáticas, para que possamos dar o suporte necessário aos produtores”, disse o presidente do Sindicato Rural, Mauro Flores. Em virtude disso, alinharam tratativas com a Defesa Civil e técnicos agrícolas ligados a empresas de assistência técnica rural, para a realização de um levantamento de dados sobre as condições das lavouras do município.

Na quinta-feira (9), o Conselho Municipal de Agricultura e Pecuária se reuniu extraordinariamente, para conversar sobre os relatórios. Os números foram alarmantes. Por isso, encaminharam a ata e o levantamento ao prefeito de Candelária, Paulo Butzge, para embasar o decreto de situação de emergência. “É uma maneira de equilibrar a balança, porque houve prejuízo e não há como recuperar”, comentou Flores.

Estado de emergência abranda efeitos da estiagem

Todas as regiões do município estão sofrendo com a falta de chuvas. No entanto, as localidades mais afetadas são as da área de campo, próximas das divisas com Rio Pardo e Cachoeira do Sul. De acordo com o prefeito de Candelária, Paulo Butzge, que assinou o decreto de situação de emergência na última sexta-feira (10), já há famílias recebendo água potável de caminhão-pipa e solicitando a abertura de bebedouros para a criação. No decreto de emergência, Butzge apontou a necessidade de melhorar nascentes, abrir mais poços artesianos, fazer dragagem no Rio Pardo e construir tanques.

A homologação do Governo do Estado aconteceu nessa quarta-feira (15). Com isso, os produtores candelarienses terão acesso, de forma menos burocrática, a contratação de serviços e outras ações. A Famurs, a Emater e a Farsul encaminharam ao governador Eduardo Leite, nessa terça-feira (14), uma lista com 10 reivindicações do setor. Se aprovadas em nível estadual as medidas serão enviadas ao Governo Federal.

Entre os principais pontos está a prorrogação, por até 120 dias, de dívidas originadas de crédito rural; criação de linha de crédito emergencial para agricultores familiares, com teto de R$ 20 mil, com prazo de cinco anos, se taxa de juros; ampliação do zoneamento do plantio da soja para 31 de janeiro e do milho para 29 de fevereiro; e apoio da assistência social a agricultores não segurados, sem acesso a crédito rural e que vivam somente da agricultura de subsistência.

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