Interior agoniza por falta de água

Nem para o consumo próprio e nem para matar a sede dos animais. Poços, açudes, rios e sangas já não possuem mais água

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Muito cascalho e poças d’água: a figura atual do rio Pardo em Candelária (Fotos: Matias Ramos/JC)

Se a seca já contabiliza enormes prejuízos na agricultura, os moradores do interior estão tendo que lidar com outro grande problema: a falta de água para o consumo próprio e também para os animais. A estiagem que atinge Candelária, assim como todo o Estado, desde o final do ano passado, tem resultado em açudes, poços, rios e sangas vazias. Os problemas se agravam a cada localidade e não há mais esperanças, a não ser que a chuva caia o mais rápido possível.

A família Muller, da localidade da Rebentona, é uma das centenas que estão tendo que conviver com a falta de água. E não é só a potável que está em escassez. O açude que a família tirava água para utilizar no banheiro, lavar roupas e outros afazeres domésticos está praticamente seco. “Tivemos que parar de tirar o pouco que ainda tinha, se não os peixes morreriam”, comenta Lani Muller. Para o consumo, ela e o esposo tem comprado água em galões.

Desde janeiro, a família sofre com a falta de chuva e há cerca de um mês teve que pedir socorro aos bombeiros voluntários e a prefeitura. “Conseguimos uma carga de seis mil litros que os bombeiros trouxeram. Mas a situação é tão crítica que já está faltando novamente”, comentou Lani. O casal foi orientado, então, a comprar água da Corsan, mas devido à grande demanda, os bombeiros ainda não conseguiram levar o líquido até a propriedade.

Segundo o agricultor Ênio Muller, que reside há 40 anos na localidade, a última estiagem tão severa como esta aconteceu no ano de 1985. De lá para cá, houve alguns períodos sem chuva, mas que não causaram tantos prejuízos. Segundo ele, toda vizinhança está com problemas com falta de água e não é diferente nas outras localidades. “Estamos desesperados, não sabemos mais o que fazer. Sem água não tem como viver”, comentou Muller.

Lani Muller não tem mais água para beber nem para utilizar na sua residência

“Tem muita gente passando sede. É hora de pensarmos em todos”

Na mesma situação encontra-se outra família, moradora do Rincão das Casas. Segundo Fábio Chagas, o poço que possuem há mais de 20 anos está quase sem água, pois ele, a esposa, a filha e também a sogra, que mora próximo, utilizam água de lá. A situação é tão grave que o morador já solicitou uma carga de água da Corsan e aguarda a entrega pelo Corpo de Bombeiros Voluntários. “Foi a forma que a gente encontrou de não ficar sem água”, ressaltou o morador.

A preocupação é tamanha que desde janeiro a família redobrou os cuidados para economizar água. Para não desperdiçar o pouco do líquido que ainda tem, a sogra de Chagas, Vitória Grehs, que mora na casa ao lado, tem controlado a quantidade de água utilizada nos afazeres, com alguns pequenos hábitos. “Colocamos uma bacia embaixo do chuveiro e a água que sobra do banho vai para lavar a casa e também pro vaso sanitário. Na louça é a mesma coisa. Não lavo com água corrente e tenho uma bacia. Essa água vai para matar a sede do porco”, ressaltou.

Jordana Grehs também tem seguido as dicas da mãe para que a família não fique sem água. Ela ainda faz um apelo para que as pessoas economizem. “Tem muita gente passando sede. É hora de pensarmos em todos. Alguns hábitos simples que podem ajudar a minimizar, pois a situação só vai se normalizar com a chuva”, afirma Jordana.

Vitória tem adotado hábitos para economizar água, que está praticamente escassa

Alerta para situação do rio Pardo

Embora o fornecimento de água em Candelária ainda esteja ocorrendo normalmente, a situação do rio Pardo é preocupante. Por isso, a Corsan está com uma campanha na mídia que alerta para o não desperdício de água. Segundo o gestor da unidade local da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Joanei Antonelli, o poço de onde é retirado água está 70 centímetros abaixo do nível normal.

Apesar disso, a companhia não iniciou racionamento na cidade, mas Joanei não descarta a possibilidade disso acontecer. “Lançamos a campanha nos rádios e jornais visando economia, mas se caso persista a falta de chuva é provável que tenhamos que fazer racionamento”, ressaltou. Em dias normais o nível do poço é de 2,30 metros e, atualmente, está em 1,60 metro.

Corpo de Bombeiros e Prefeitura amenizam situação

O Corpo de Bombeiros Voluntários de Candelária está enviando caminhões com água para todas as localidades do interior do município. Conforme a corporação, em média, são quatro cargas por dia, que totalizam 30 mil litros de água. O interessado pode adquirir o líquido e autorização junto à Corsan e procurar os bombeiros. A demanda é grande e o valor cobrado é de R$ 50,00 (até 10 quilômetros de distância) e R$ 3,00 por cada quilômetro rodado a mais.

Nesta semana, a prefeitura adquiriu, através do setor de Defesa Civil, um tanque de cinco mil litros e uma bomba hidráulica. O equipamento está auxiliando para levar água potável para o consumo humano desde quarta-feira (11). Para solicitar, basta ligar para o telefone do Departamento Municipal de Meio Ambiente, 3743-8121 ou para o celular (51) 99818-4853. A prioridade é o abastecimento em caixas de água e reabastecimento de poços.

A secretaria de Agricultura também está com grande demanda para abertura de bebedouros para os animais. Em média, são 20 solicitações por dia. Conforme o secretário Anselmo da Silveira, na medida do possível, os pedidos serão atendidos.

Prefeitura instalou tanque em caminhão para levar água no interior do município

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