Hospital utiliza hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19

Protocolo de uso do medicamento foi feito em abril e possibilita o tratamento de pacientes confirmados e com suspeitas da doença

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No hospital, remédio é utilizado apenas em pacientes que internam. Foto: Fernando Cezar/JC

Contrariando a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Imunologia, o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, na última quarta-feira (20), divulgou um novo protocolo de recomendações para o tratamento de pacientes com covid-19, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

A nova recomendação define os protocolos de utilização dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina, junto de azitromicina, em casos leves, moderados e graves da doença, na tentativa de deter a infecção no organismo. Até então, o Ministério recomendava esses medicamentos apenas para casos graves, com a concordância de médicos e pacientes.

Em Candelária, o tratamento à base desses medicamentos já vem sendo realizado desde o dia 16 de abril, quando foi desenvolvido, pelo Hospital Candelária, um protocolo de uso para tratamento dos pacientes com covid-19. Neste protocolo, criado pelo diretor técnico do Hospital, o médico Romi Ávila Hugo e pelo diretor clínico, o médico Wolmar Lucas Ercolani, somente os pacientes que são submetidos à internação na instituição de saúde recebem a medicação.

Conforme o diretor técnico, a hidroxicloroquina é utilizada tanto para casos suspeitos quanto também em casos já confirmados de covid-19. “Quando um paciente apresenta sintomas e internamos na ala preparada para receber os pacientes com suspeita de terem o vírus, iniciamos a utilização do protocolo. O paciente é testado e em caso de teste negativo para coronavírus, encerramos a aplicação da hidroxicloroquina no tratamento”, destaca.

MODO DE APLICAÇÃO
Romi explica que a aplicação da hidroxicloroquina no tratamento é feita desde o início da internação. A medicação, comumente usada no tratamento de outras enfermidades, como a malária (por um curto período), e também em doenças crônicas, como artrite e lúpus, pode ajudar no bloqueio da reprodução do vírus e é utilizada juntamente de outros dois medicamentos: a azitromicina, um antibiótico que auxilia no combate a outras infecções que podem vir a ser causadas pelo organismo já debilitado em função da presença da covid-19, e o tamiflu, que é um medicamento antiviral usado para prevenir sintomas e combater a carga viral no paciente.

Em pacientes com sintomas de coronavírus que estão com pneumonia, ainda é utilizado o clavulin, medicamento a base de amoxilina e clavulanato, que potencializa a capacidade de ação contra bactérias.

Segundo Romi, a ideia de aplicar o protocolo desde o início dos sintomas em casos suspeitos e confirmados, é para não permitir um agravamento dos sintomas, bem como danos maiores ao organismo. “Nossa conduta é fornecer um mecanismo de tratamento que evite um mal maior mais na frente. Não queremos esperar o resultado de um paciente com suspeita, que as vezes demora até dois dias, para aplicar a medicação. Em dois dias, o vírus agrava o estrago no pulmão e outros órgãos. Por isso seguimos esse protocolo”, ressaltou.

O protocolo definido pelo Hospital Candelária foi utilizado, até aqui, com os dois pacientes que foram internados e tiveram a confirmação da contaminação do vírus e nos demais pacientes suspeitos que internaram na casa de saúde. Em relação ao segundo caso confirmado, o de uma mulher de 70 anos, que teve a liberação do hospital e depois retornou à internação, o tratamento não foi alterado. Conforme explica o diretor técnico do Hospital Candelária, ela manteve a utilização dos medicamentos prescritos tanto durante o período em que esteve internada quanto nos dias em que ficou em casa. “Como se tratava de um caso confirmado, orientamos que completasse o tratamento, que incluía o uso de 20 comprimidos de hidroxicloroquina”, ressaltou.

Protocolo permite uso já em sintomas leves

No novo protocolo do Ministério da Saúde, divulgado na manhã dessa quarta-feira (20), é possível fazer a aplicação da hidroxicloroquina em pacientes que apresentarem os primeiros sintomas da doença, mesmo que leves. O tratamento precoce recomenda que a medicação seja feita nos cinco primeiros dias depois de aparecerem os sinais de contaminação.

No Hospital Candelária, pacientes com sintomas leves, que não internam na casa de saúde, são liberados e orientados a ficarem em isolamento domiciliar, pois na instituição, só ficam os casos considerados graves. Os casos liberados recebem receita de tamiflu e antibióticos, mas não recebem hidroxicloroquina, pois o medicamento não está mais disponível nas farmácias e o estoque na farmácia do hospital é baixo. A ideia, a princípio, como destaca o médico e diretor técnico do Hospital Candelária, Romi Ávila Hugo, é manter o protocolo de aplicação dos medicamento apenas em casos suspeitos e confirmados que forem internados na instituição. Para casos leves, os quais não vão parar no hospital, depende da orientação da secretaria de Saúde do município.

“Todo remédio tem efeito colateral”

O paciente que acabar tendo diagnóstico confirmado de covid-19 ou até mesmo suspeito, para receber o tratamento conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, precisará assinar um termo de consentimento para autorizar o uso do medicamento. Através deste termo, o paciente é informado que a hidroxicloroquina pode causar efeitos colaterais, como redução dos glóbulos brancos, disfunções do fígado e cardíacas, e danos à retina. Ao assinar o documento, o paciente diz que aceita correr estes riscos “por livre iniciativa”. O documento também deve ser assinado pelo médico responsável pelo tratamento.

De acordo com o diretor técnico do Hospital Candelária, Romi Ávila Hugo, a hidroxicloroquina, assim como todos os outros medicamentos, têm contraindicações e efeitos colaterais. “Foi criado um fantasma sobre efeitos graves, mas se pegarmos a bula de qualquer remédio, todos podem apresentar malefícios ao organismo. Agora, deixar de usar um medicamento, o qual já existem algumas pesquisas dizendo que ele pode auxiliar no tratamento, é irracional. Sabemos que sua eficácia não está comprovada ainda e que precisa passar por testes e ter um embasamento científico, mas já existem trabalhos que mostram que o medicamento bloqueia a progressão da doença, então não podemos deixar de usar, de oferecer ao paciente uma possibilidade de não complicar o seu caso”, afirmou Romi.

O médico ainda comentou que podem haver complicações, mas a chance disso ocorrer é mínima, visto que o tratamento é de curto prazo. “A gente usa por, no máximo por 10 dias. A chance de dar algum efeito colateral, mesmo sendo uma pessoa idosa, é muito pequena, pois 20 comprimidos não vão intoxicar ou agredir demais o fígado. É um efeito colateral mínimo, se comparando com o possível benefício”, finalizou.

O administrador do Hospital Candelária, Aristides Feistler, também salienta que a aplicação do protocolo, também é uma medida tomada para evitar um mal maior. “Estamos colhendo o resultado das nossas ações. Sempre digo que preferimos pecar por excesso do que por negligência e é por isso que adotamos essas medidas e criamos toda uma estrutura específica para atender os casos de covid-19”, relata.

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