Em minha primeira eleição segui a risca as orientações do Tribunal Eleitoral. Mesclei os escrutinadores, organizei as turmas de apuração e baixei a portaria proibindo venda de bebidas alcoólicas no período anterior e posterior às eleições. Na pausa para o almoço sempre surgia alguém trêmulo sondando o juiz sobre a possibilidade de uma caipirinha. Sugeri que tomassem alguns goles de uma garrafa de laranjada, bebida popular à época, para satisfazer sua necessidade.
Quando terminei as apurações, encerrados todos os mapas e expedidos todos os boletins e atas, após tudo envelopado e lacrado, mandei postar nos correios, que era a previsão legal. Não sabia desse costume de o juiz levar pessoalmente ao Tribunal os resultados e, assim, receber meia-diária. Extenuado, com o dever cumprido, sentei-me com o secretário no bar do clube, um calor infernal e disse-lhe:
– Agora que estamos prontos vamos tomar uma cerveja.
Com os olhos arregalados o garçom serviu e, como por encanto, vi surgirem garrafas e copos por detrás de objetos sobre o balcão. Só então me dei conta que eu havia baixado portaria proibindo a venda de bebidas alcoólicas antes e depois das eleições.
Não acompanhei o andamento das apurações estaduais, dedicando-me a atender os demais compromissos. Estava em pleno jogo de futebol de salão, à noite, três dias depois, quando fui procurado por um policial militar, a pedido do Tribunal Eleitoral, cobrando os resultados das eleições, pois era uma das poucas Zonas Eleitorais pendentes. Comprovei a remessa e iniciou-se uma verdadeira peregrinação que verificou que haviam sido entregues equivocadamente pelos Correios na Assembleia Legislativa.
Não cheguei a atuar após a adoção das urnas eletrônicas, que têm suscitada tantas críticas e reclamações. A maior dificuldade, e creio que o maior erro, foi a centralização dos resultados no TSE, em Brasilia. Antes cada zona eleitoral fazia a apuração e totalizava os resultados, enviando-os para o Tribunal Eleitoral Estadual. Qualquer dúvida poderia ser cobrada imediatamente, após a publicação do boletim de urna, ou da totalização da zona eleitoral. Os Tribunais Estaduais poderiam fazer a totalização do Estado, enviando os dados de interesse nacional para o TSE. Da forma como ocorre, com a centralização em uma sala secreta, em Brasília, qualquer mudança drástica nas expectativas de resultado logo geram suspeitas, especialmente quando não é unificado o horário de encerramento das votações, o que também é um erro.
Na minha opinião de leigo, se há algum problema nas urnas, não é na totalização dos votos, como se pensa. Para verificar isso bastaria somar os boletins de urna expedidos por cada seção eleitoral. Se podem ocorrer problemas, e a informática está sempre sujeita ao ataque de hackers, é com a manipulação do software implantado nas urnas. Embora possam ser publicamente testadas por sorteio, afirma-se que que o próprio software poderia ser programado para funcionar corretamente quando verificar, pelas peculiaridades de uma votação, que está sendo submetido a um teste.
Defendeu-se, e chegou a ser aprovado, mas não implantado, a impressão do voto eletrônico e sua permanência em uma urna especial para eventual verificação. O Presidente do TSE, Min. Luís Roberto Barroso, chegou a ir ao Congresso Nacional defender sua não implantação. Alegava-se que seria um retrocesso, geraria elevados custos, traria problemas com o mau funcionamento de impressoras, o que é comum, e inúmeros recursos.
Não há possibilidade de auditar externamente as urnas, sendo necessário confiar nos técnicos que programam os softwares e os implantam. Isso gera intranquilidade aos eleitores e candidatos. Creio que teria sido uma boa medida, para sua própria tranquilidade, o TSE ter adotado a impressão dos votos, sorteando urnas para comparação entre o informado pela máquina e os votos físicos depositados na urna.
Como isso não ocorreu no seu devido tempo, vamos para as eleições com a esperança de que as máquinas funcionem corretamente e cumpram seu papel, que o resultado espelhe a vontade da maioria dos brasileiros, seja aceito de forma tranquila pelos candidatos e que o Brasil siga seu destino de nação livre, democrática e próspera, para o bem de seus filhos.