Dados disponibilizados pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, em 2017, dão conta de que, no Brasil, 34 milhões de brasileiros não tinham acesso à redes de abastecimento de água potável. Uma pequena parcela dessa quantidade – cerca de 80 famílias – está em Candelária, na localidade do Rincão das Casas. Lá pega internet, mas um dos recursos mais básicos e necessários para o ser humano, a água, não chega. Enquanto isso, os moradores ocupam águas de açudes, cacimbas, e pagam caro para a abertura de poços artesianos.
Há cerca de quatro anos, as famílias da localidade tiveram a esperança de ter acesso à uma água de qualidade renovada. Durante a campanha, alguns candidatos estiveram na região prometendo a implantação de uma rede de água. “Mas até agora nada. Continuamos utilizando e consumindo água podre”, comentou a agricultora Bruna Almeida Severo, de 22 anos. Ela é mãe de Ágatha, de 2 anos, e tem muito medo de que a filha contraia alguma doença devido à água do açude – a mesma em que os animais tomam água – que utiliza no banho e para lavar roupas. Além é claro, da falta de tratamento do líquido que tomam, tirado da cacimba. “Seguido temos dores de barriga. Por sorte, não aconteceu nada grave”, destacou.
A água tem tanta impureza que a resistência do chuveiro estraga com frequência, devido à corrosão. As roupas claras mancham e o cheiro da água fica no corpo após o banho.
Em novembro do ano passado, a comunidade viu, mais uma vez, uma luz no fim do túnel. Os canos da rede de água começaram a ser instalados em novembro do ano passado, mas pouco tempo depois o serviço foi interrompido. Parte do material está fixado sob a estrada e o restante está largado em uma propriedade particular. Os moradores não receberam muitas informações sobre o motivo da pausa na implantação da rede. “Nos falaram sobre a necessidade de um motor forte, que ainda não teria”, relembrou. Os moradores já tiveram reunião com o prefeito Paulo Butzge, mas não houve nenhum avanço.
Conforme informações da secretaria de Agricultura, Planejamento e Pesca, até agora foram implantados 1,5 mil metros de canos. Nos próximos 30 dias, está prevista a instalação de mais 1,7 mil metros. No futuro, um complemento de 1,4 mil metros deve alcançar toda a comunidade, totalizando 4,6 mil, metros de canalização de água potável. A interrupção aconteceu porque a Corsan entendeu que o projeto não estava adequado ao relevo da localidade. Agora, a companhia vai instalar um booster – equipamento que eleva e pressuriza a água – e uma caixa d’água a mais do que previsto inicialmente. O investimento total está orçado em R$ 38 mil.
DESVALORIZAÇÃO
Com tantas divergências e, até mesmo, falta de informação por parte do poder público, a comunidade fica se perguntando se algum dia a rede de água será concluída ou o dinheiro gasto até o momento vai ter sido em vão. O descaso por parte do poder público desanima os agricultores, em especial os mais jovens, como é o caso de Bruna. “Dá vontade de desistir do campo, porque estamos cada vez mais deixados de lado, nos fazendo de bobos”, reclamou. Natural de Porto Alegre, ela mora no Rincão das Casas há nove anos. Na propriedade, cria galinhas, tem horta e se sustenta com a cultura do tabaco. Conforme conta, gosta do interior, mas a cidade, com todas as facilidades chama muito atenção, principalmente por causa da qualidade de vida da filha.
Filhos abastecem Dona Almerinda
A dona de casa Almerinda Lopes Machado, de 55 anos, morava na cidade. No entanto, há um ano decidiu curtir uma vida mais tranquila no interior e adquiriu uma propriedade no Rincão das Casas. A falta de água potável, porém, está fazendo Dona Almerinda se arrepender da escolha. Para lavar roupas e limpar a casa, ela junta água da chuva. Para tomar e fazer comida, a dona de casa conta com os filhos que levam água da cidade, em garrafas pet, até a casa da mãe.
A adaptação a esse sistema foi muito complicada, segundo Dona Almerinda. E, até hoje, ainda procura uma forma de aliviar a precariedade da falta de água potável. Nessa semana, ela investiu cerca de R$ 12 mil em um poço artesiano. “E daí a gente gasta esse dinheirão para perfurar o solo e nem sabe se vai ter uma água boa para beber”, comentou. Bruna e Almerinda são vizinhas e contaram que, nessa época de seca, se apoiavam umas nas outras para garantir água para as casas. “Ou puxava do nosso açude, ou falava com outra vizinha. Não é fácil”, relataram.
Outro problema enfrentado pelas famílias daquela região é a falta de água quando ocorre algum problema com as mangueiras que conduzem a água até o encanamento das casas. “Ah, tem vezes que a gente fica até três dias sem água”, pontuou.
Recurso esteve disponível, mas não poderá ser utilizado
Em 2018, Bruna fez um desabafo em seu perfil pessoal no Facebook, sobre a situação precária vivida pelos moradores da localidade de Rincão das Casas. A publicação chegou até o então deputado federal Sérgio Moraes (PTB), que, naquele mesmo ano, destinou recursos no valor R$ 268 mil, para implantação da rede de água lá e na Linha Bernardino. A verba ficou disponível no dia 4 de novembro de 2019, mas não pôde ser utilizada. O empecilho foi o fato de a obra ter sido iniciada antes da liberação, enquanto estava em tramitação.
De acordo com o vereador Jorge Willian Feistler (PTB), devido a questões legais, o dinheiro não pôde ser empregado nessa finalidade, já que a obra foi iniciada com recursos do próprio município. “Agora cabe à Prefeitura terminar o serviço ou não”, comentou. Na tarde dessa quarta-feira (22), o vereador esteve em reunião com o prefeito em exercício, Nestor Ellwanger, o Rim, para solicitar a alteração de destinação do recurso, para que não volte aos cofres da União. O pedido foi para que seja realizada a implantação de rede de água na localidade de Data do Ribeiro.
Na segunda-feira (20), Rim esteve com o presidente da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), para assinar o termo de convênio celebrado entre as duas partes, referente à emenda do ex-deputado Sérgio Moraes.