
Um dos casos de maior repercussão entre a comunidade candelariense, a morte do frentista Carlos José Kolbe, 27 anos, está sendo apurado por duas frentes: pela Polícia Civil; e pela Brigada Militar, que instaurou um inquérito policial militar (IPM) para esclarecer as circunstâncias do crime. Kolbe foi morto por um tiro no região lateral do tórax, na noite da última quinta-feira (14), após entrar em confronto com policiais militares. O desentendimento ocorreu por volta das 23h45, na Rua José Bonifácio, próximo ao Posto Esquinão, conhecido ponto de encontro de jovens aos fins de semana.
A guarnição da BM foi acionada por moradores da área, devido a algazarra – som alto e gritaria -, e pelo fato de os frequentadores da rua estarem usando as entradas e muros das residências como banheiro. No momento dos fatos, os policiais conversavam com o morador que havia feito o chamado via 190, na tentativa de cessar a algazarra no local, quando Kolbe se aproximou da residência e começou a urinar, próximo dos proprietários da casa e dos PMs.
O frentista foi repreendido pelos policiais, recebeu voz de abordagem e enquanto era revistado, teria iniciado luta corporal com os policiais, que estavam em três, sendo dois homens e uma mulher. Um dos PMs, levou um soco no rosto e caiu no solo, enquanto o outro também era atacado pela vítima. A brigadiana ficou afastada do tumulto, e solicitou reforço. O homem e os militares teriam seguido em luta até o outro lado da via.
Segundo uma testemunha, que preferiu não se identificar, os PMs, embora em maior número, não estariam vencendo conter o frentista, que avançou com virulência sobre eles. “Os PMs estavam apanhando muito, foi uma situação inacreditável, eles (os policiais), não estavam esperando aquela reação”, disse a testemunha.
De acordo com comunicado da BM, durante a luta, a vítima teria tentado tirar a arma que o policial portava no coldre. Foi então que o PM, primeiramente agredido, efetuou o disparo que atingiu a vítima na altura do abdômen. Os policiais encaminharam o jovem até o Hospital Candelária, onde teria chegado com vida, mas acabou não resistindo. A família do jovem, contudo, contesta a versão da BM, e alega que o disparo foi feito de forma covarde pelas costas de Carlos.
PROTESTOS
O sentimento de revolta pelo crime por parte de amigos e familiares do frentista, e nas redes sociais, ganharam força e invadiram as ruas da cidade. Duas manifestações pedindo principalmente justiça para o caso foram realizadas. A primeira na manhã de sexta-feira (15), após concentração na Praça Central, percorreu a principal avenida da cidade até à sede da Brigada Militar de Candelária. Outro protesto ocorreu na noite do último domingo (17), na Rua José Bonifácio, onde Kolbe foi morto pelos policiais. Velas e flores foram deixadas no local pelos manifestantes.
BM afastou policiais e abriu IPM
A Brigada Militar abriu um inquérito militar para elucidar alguns pontos da morte e analisar a conduta do policiais envolvidos no caso. Já estão sendo inquiridas testemunhas e a coleta de outras provas, como imagens de câmeras de segurança e fotos, tudo para que o fato seja elucidado. O inquérito pode durar até 40 dias.
De acordo com o major do 23º Comando Regional da Brigada Militar, Cristiano Marconato, encarregado da investigação de toda e qualquer conduta realizada pelos policiais militares nos 31 municípios da região, todas as providências possíveis foram tomadas. “A investigação está em andamento e tudo é encaminhado para o sistema onde a justiça militar pode acompanhar online”, ressalta.
O major ainda lamenta o ocorrido e declara que a corporação se solidariza com família da vítima. “A BM está disponível para qualquer esclarecimento e dúvidas dos familiares para que todo o processo seja liso, claro e imparcial”, salienta. O comandante da Companhia da BM de Candelária, Douglas Ferreira Oliveira, informou que policiais envolvidos foram afastados de suas funções. “É um procedimento legal e obrigatório quando há vítimas”, esclareceu.
Inquérito da PC deve ser encerrado em 30 dias
De acordo com o delegado interino da DP de Candelária, Paulo César Schirrmann, o inquérito para esclarecer a morte do frentista, Carlos José Kolbe, está em fase de oitivas de testemunhas. Ele acredita que em 30 dias a peça investigativa esteja concluída, e então será encaminhada à justiça. Duas pessoas já foram ouvidas e mais duas serão inquiridas hoje. Os policiais ainda não prestaram depoimento, mas serão ouvidos em breve.
Uma peça importante para a investigação, segundo o delegado, será o laudo pericial do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Cruz do Sul, que deve ficar pronto nos próximos dias. “O laudo de necropsia ainda não chegou, mas deve sanar muitas dúvidas relativas ao caso. Até lá tudo não passa de especulações”, destaca. A prova técnica deverá ser anexada ao inquérito nos próximos dias. Além do laudo balístico, que irá apontar a trajetória da bala, também foi solicitado exames toxicológico e de dosagem alcoólica da vítima.
O delegado Schirrmann ressaltou que os laudos são provas importantes do inquérito, mas se deve levar em consideração todo o conjunto probatório, como depoimentos de quem presenciou o desenrolar da ação dos policiais e de como foi a morte da vítima. Schirrmann adiantou que os depoimentos tomados até aqui, convergem para a versão dos policiais.
INDICIAMENTO
O delegado Paulo César Schirrmann, acredita ser muito cedo para falar de indiciamento, pois o inquérito está em fase inicial. Mas, ele adiantou que vai debruçar sua análise nas provas colhidas no processo. “Ao final do inquérito, que deve levar cerca de 30 dias, dependendo da apuração dos fatos e das provas colhidas, podemos tanto indiciar o policial militar por homicídio doloso, como também poderá haver a exclusão de ilicitude e culpabilidade”, explica.