Histórias de Juiz – Bicentenário da Independência do Brasil

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Moacir Haeser - Desembargador aposentado

Parece que nem faz tanto tempo, mas a vida mudou muito desde o sesquicentenário da independência em 1972. Lembro-me que cursava o quarto ano da faculdade de direito, já estava casado e era pai de uma filha, hoje renomada cirurgiã plástica.

Vivíamos o período do regime militar, mas o presidente Emilio Garrastazu Médici assistia os jogos nos estádios, com seu radinho de pilha. Seus discursos eram verdadeira peças literárias e valia a pena ouvir. No dia 12 de fevereiro de 1972 inaugurou a Festa da Uva, em Caxias do Sul, com transmissão pela televisão em cores, pela primeira vez, para todo o Brasil.

O incêndio no Edifício Andraus, no dia 24 de fevereiro, deixou 16 mortos e 330 feridos na cidade de São Paulo. Tivemos o primeiro computador brasileiro construído por uma equipe da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Em 10 de setembro Emerson Fittipaldi conquistou o primeiro título de campeão mundial de Fórmula 1 após vencer o Grande Prêmio da Itália e no dia 27 de setembro Médici inaugurava o primeiro trecho da Rodovia Transamazônica.

Enquanto os Estados Unidos devolviam ao Japão a Ilha de Okinava, que administraram durante 27 anos, desde o fim da segunda guerra mundial, e lançavam o primeiro foguete para mapear Marte, na Alemanha ocorria o atentado contra os atletas de Israel, nos Jogos Olímpicos de Munique, promovida por terroristas do Setembro Negro, com 11 atletas mortos.

A Semana da Pátria mereceu comemorações especiais, afinal eram 150 anos da independência

Lembro-me do orgulho como, na minha infância, preparava-se a comemoração do dia da independência. Ensaiávamos diariamente, semanas antes, ao rufar dos tambores, para fazer bonito no desfile do Dia da Pátria.

O ingresso no prédio era precedido do hasteamento da bandeira, ao som do Hino Nacional, cantado pelos alunos, e hora cívica, com declamações de poesias pelos estudantes.

No desfile, peito estufado, olhar firme para a frente e canto do olho no colega do lado, para manter sempre o alinhamento, orgulhosamente desfilávamos pela avenida principal, mantendo a cadência.

Para nós, gurizada, a semana começava já um mês antes, não só pelos ensaios de cantos e da marcha, mas porque tínhamos a nossa própria banda.

Sentados à sombra das bergamoteiras, alguns batiam em grandes latas de querosene, tambores que marcavam a cadência e que propiciavam ótimo som. Outros usavam latas de doces, de som mais agudo, que serviam de tarol. Com baquetas improvisadas e com a música no DNA, não fazíamos feio perante as bandas dos colégios, nosso som ecoando por toda a vizinhança.

O tempo passa rápido e amanhã comemoraremos 200 anos da independência. O mundo é outro, o televisor é praticamente ignorado nos apartamentos dos hotéis, pois o aparelho celular, com suas mensagens e imagens na ponta do dedo, tornou-o quase obsoleto.

A valiosa biblioteca hoje é uma peça de museu. Aliás, nem os museus as querem, pois substituídas por arquivos digitais.

Precisa de uma informação, pergunta para o Dr. Google!

Se permanece o amor à pátria e o orgulho pelo Brasil, o mundo globalizado atenta contra a existência de fronteiras entre os Países e os interesses pessoais e econômicos superam o fervor patriótico.

O Grito do Ipiranga, no dia 7 de setembro de 1822, imortalizado no quadro de Pedro Américo, é mais uma idealização histórica, pois a Princesa Regente Maria Leopoldina convocou o Conselho de Estado do Rio de Janeiro e assinou, em 2 de setembro, o decreto que declarava o Brasil oficialmente separado de Portugal, com o apoio de José Bonifácio de Andrada e Silva.

Ao contrário do que muitos acreditam, a independência não foi pacífica. Várias regiões demonstraram sua insatisfação e rebelaram-se contra o processo de independência, que culminou com a coroação de Dom Pedro I, como Imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822.

O bicentenário que comemoramos neste ano de 2.022 deveria ser marcado por grandes festas. No entanto, infelizmente, a proximidade de eleições gerais e o conflito ideológico que marca a disputa, aliado a recentes decisões judiciais controversas, obscurece a festividade e inibe as comemorações destes 200 anos de nossa independência.

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