
O título desta matéria faz alusão a um dos lemas de dona Maria Braga. Aos 83 anos, a candelariense, nascida e criada no bairro Rincão Comprido, além de ser a única remanescente de 11 irmãos, esbanja gentileza, simpatia, vitalidade, bom humor, assim como uma memória invejável.
Ademais, é um exemplo de independência e da autêntica batalha feminina. Entre 1972 e 2009, ela atuou como enfermeira no Hospital Candelária no período noturno. assim como prestava atendimentos até a domicílio e no interior, se fosse necessário. Em boa parte desse período, dividiu a função com as atividades no Sindicato Rural durante o dia e com vendas de pães nas horas vagas.
Duplo papel
Tamanho esforço é motivo de orgulho para Maria. Com o fruto do árduo trabalho, construiu o seu patrimônio e criou as duas filhas sozinha em grande parte da vida. Ela ficou viúva há 47 anos, quando o marido sofreu um acidente de trânsito. Na época, as herdeiras tinham apenas 8 e 14 anos. Mesmo assim, Maria teve força suficiente para superar as dificuldades e construir uma sólida trajetória. “Me desdobrei pela família, com os dois empregos e o exercício duplo do papel de pai e mãe. Não tive o tempo para mim, é verdade, mas isso não foi incômodo. Fui batalhadora o suficiente e venci. Acredito que temos de ir à luta sempre e não depender dos outros”, afirma.
Ao longo de sua carreira, Maria atendeu milhares de pacientes. O segredo para um bom trabalho sempre foi um largo sorriso, com a transmissão de toda a energia positiva e dedicação possíveis. Na hora do trabalho, bem como em outras tantas circunstâncias da vida, os problemas devem ser ignorados ou jamais superestimados. “Todos nós passamos por situações desagradáveis, temos dias ruins. Mas de que adianta chorar pelo leite derramado? Deus nos fez capazes de encarar de frente as adversidades, basta querer”, afirma a ex-enfermeira. Dessa forma, a tendência é que a pessoa se sinta bem ao seu lado e se recupere mais rápido. Esse tratamento a fez conhecida e querida por toda a cidade, sendo que a cada passeio pelas ruas candelarienses, ela engata longos bate-papos com os amigos.
Habilitação para enfermagem
O exercício da profissão foi possível por conta da vinda temporária de um professor de Porto Alegre ao município no começo da década de 1970. Ele ministrou um curso de Atendente de Enfermagem, do qual Maria foi uma das habilitadas. Grande parte da turma era formada por mulheres. Com a prática diária, novos aprendizados foram adquiridos e se mostraram fundamentais para a hora considerada mais difícil: o tratamento do paciente na sala de cirurgia. A justificativa envolve toda a responsabilidade e concentração necessárias para auxiliar os médicos e não cometer erros, visto que se tratava de uma vida.
Entre seus grandes amigos, ela destaca o Dr. Wolmar Ercolani, Dr. Fábius Pasqualotto e Padre Tonico, esses últimos já falecidos. O religioso era chamado com frequência ao hospital para abençoar os pacientes e realizar orações. Segundo Maria, graças ao Padre Tonico, ela ficou conhecida como o “Patrimônio do Hospital Candelária” pela sua destacada atuação.
Uma vida muito bem aproveitada
Maria faz questão de ressaltar que sempre foi livre para fazer o que quiser e contou com o apoio das filhas e do único neto. No passado, realizou dezenas de viagens de ônibus (até para o Paraguai), acampou várias vezes com amigos em um camping perto da praia em Capão da Canoa e frequentou as águas termais de Piratuba, em Santa Catarina. Jamais embarcou numa aeronave por causa do medo. Ela deixou de fazer boa parte das excursões, mas realiza pela cidade. Ela apenas comparece há mais de 40 anos interruptos na Romaria de Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria, da qual é devota e realiza orações diariamente.
Além das caminhadas, ela divide a rotina com atividades domésticas e ao auxílio no atendimento da floricultura de uma das filhas. Por opção própria, não tem celular e nem faz questão de lidar com um computador. Não fuma, nem consome álcool e mantém uma alimentação saudável. Na televisão, assiste as notícias, o Programa Sílvio Santos e uma novela infantil da emissora do conhecido apresentador.
No decorrer do ano, ela integra a encenação da Paixão de Jesus Cristo aos pés do Morro Botucaraí e na Rua Coberta, participa de casamento caipira e outras atividades propostas pela secretaria municipal de Assistência Social e Habitação. “Estou sempre em movimento e disposta a ajudar no que for preciso”, garante a aposentada. Ela exalta o “viver intensamente”, pois “se pensar na velhice ou em determinada incapacidade, a morte chegará mais rápido”.
Embalos do passado
Figura importante na sociedade candelariense, Maria foi a primeira Musa da Lua da história. Até hoje ela participa da organização do concurso promovido pela direção do Balneário Sol Nascente e que exalta a beleza de mulheres da terceira idade.Fã do Carnaval, ela relembra os anos dourados da folia de rua no município. Enquanto existiu, desfilou em um bloco do extinto Clube Brasil, na ala das baianas. “Nós saíamos do Banco do Brasil e íamos até a frente da Gut. Com muita alegria e disposição. Fazia isso mesmo depois de trabalhar por inúmeras horas no hospital. Bons tempos”, relembrou.
Ao finalizarmos a longa conversa de quase duas horas, Maria deixou um recado para todas as mulheres: “Nós temos o poder e a determinação suficientes para ultrapassarmos as barreiras e conquistarmos tudo que desejarmos. Somos a maior fortaleza deste mundo”, finalizou Maria, um verdadeiro símbolo de perseverança.
Mariazinha, muito querida! Merece essa materia e homenagem neste dia da mulher!!! Grande ser humano ❤
Parabens!
É isso aí tia Maria!!!