
Aconteceu de novo! Pouco mais de três anos depois, outra barragem se rompeu em Minas Gerais e arrasou a comunidade de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, com o mar de lama misturada com rejeitos de minérios. Famílias foram destruídas para sempre, fazendas arrasadas, animais machucados, uma verdadeira catástrofe. A lição de Mariana 2015 não foi aprendida, como se percebe.
Não foi acidente. É o fruto da ilimitada ganância do ser “humano”, da exploração desenfreada dos recursos naturais, do desejo de passar por cima de tudo e todos para conseguir o que quer, da vista grossa sobre os riscos da atividade. É a plena caracterização do “jeitinho brasileiro” e da cultura popular do “não vai dar nada, pode continuar”.
As informações noticiadas a todo momento pela imprensa dão conta do quanto a empresa e as autoridades tiveram uma conduta questionável, remediando em vez de prevenir. Agora, todas as partes citadas tentam se explicar, transferir a culpa para o outro, dizer que foi um “desastre natural”. Desastre natural, vale ressaltar, é uma erupção de vulcão, um terremoto, eventos que não podem ser evitados. Portanto, um rompimento de barragem não se encaixa nessa categoria. É uma atitude cretina arranjar argumentos para o injustificável.
Uma advogada afirmou que a legislação ambiental do Brasil é uma das “mais rígidas do mundo”. Não entrarei no mérito da questão, mas pensem comigo: se há tanta rigidez assim, como é possível que tragédias como essa sejam recorrentes? Não faz sentido! Falta uma fiscalização eficiente e investimento em pessoal, afinal de contas, existem apenas seis funcionários da Agência Nacional de Águas para fazer esse trabalho em TODO O BRASIL. E tem mais, dezenas de barragens podem se romper a qualquer momento. A situação é grave e isso não pode ser deixado de lado. Como visto, o meio ambiente cobra os investimentos parcos ou o tratamento desleixado.
Não basta analisar que “algo está errado”. Encontrar a origem do problema para evitar novas tragédias, sim, é vital. As punições devem ser exemplares, culpados precisam pagar caro por todo o sofrimento causado. Caso contrário, o fantasma da impunidade continuará a assombrar a sociedade.
Em tempo, esse sentimento é reforçado a cada 27 de janeiro no Rio Grande do Sul. Há seis anos, 242 jovens perderam a vida (e outros 600 ficaram feridas) no incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria. Um fato que marcou para sempre a sociedade gaúcha e refletiu no mundo inteiro. Até hoje, o castigo aos responsáveis não foi aplicado, o que aumenta a sede de justiça de familiares e amigos. É imprescindível que o processo termine com a condenação exemplar dos autores deste crime. Mais do que isso, significa respeitar a memória das vítimas e confortar, de certa forma, o coração de quem aqui ficou.
Tanto a tragédia da Boate Kiss quanto o rompimento da barragem em Brumadinho emitem o seguinte recado: enquanto as vendas forem colocadas de propósito nos olhos, a sujeira for varrida covardemente para debaixo do tapete e a ganância falar mais alto, vidas e mais vidas serão colocadas em risco e/ou ceifadas!