Queda de cabelo: outro obstáculo da luta

Médico dermatologista esclarece fantasias, mitos e preconceitos a respeito desse efeito da quimioterapia

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Manuela Siqueira doou 30 centímetros de cabelo à Liga de Candelária. Foto: Heloisa Corrêa/JC

Assim que ouvem o diagnóstico positivo para o câncer de mama, um dos primeiros pensamentos a assombrar as pacientes é: “vou perder o cabelo?”. A resposta do médico, na maioria dos casos, é sim. Conhecidas como a moldura do rosto, as madeixas representam muito e só imaginar ficar sem elas já causa um impacto negativo muito grande na autoestima daquelas que estão se preparando para a luta contra o câncer. O efeito causado pela quimioterapia é chamado de alopecia e se torna um drama adicional para as pacientes.

O motivo da queda de cabelo, segundo o dermatologista Ismael Rauber Schmitt, que atende na clínica PróVida, é que a quimioterapia ataca as células que estão crescendo muito rápido, principal característica das células cancerígenas. No entanto, as células dos cabelos, sobrancelhas e cílios também são afetadas, devido ao alto índice de proliferação. Ele destaca, porém, que nem sempre o tratamento faz cair os cabelos. “Há alguns agentes quimioterápicos que causam uma perda muito discreta ou nada. Esses, entretanto, proporcionam recuperação mais lenta, devido à dosagem menor”, explicou.

Isso também pode interferir na época em que o cabelo começa a cair. No entanto, de modo geral, a queda inicia por volta da segunda semana de quimioterapia. “Totalmente, a queda ocorre mais ou menos no fim do segundo ciclo”, disse. É por esse motivo que a presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, Marilei Reinheimer, orienta as pacientes a rasparem todo o cabelo de uma vez e, então, optarem pelo uso de perucas ou lenços. “A queda gradual é mais prejudicial, porque a cada dia a autoestima sofre um golpe. Ao tirar tudo, logo já é possível se adequar àquela nova realidade”, destacou.

TUDO VOLTA AO NORMAL
Apesar do desespero que – naturalmente – toma conta das pacientes diagnosticadas com câncer de mama, a evolução do tratamento está propiciando que grande parte delas vença a luta contra a doença. E, depois da árdua batalha, tudo volta ao normal. Inclusive os cabelos. “Algumas pessoas notam que os cabelos crescem diferentes, seja mais liso, mais crespo ou até com cores diferentes”, pontuou.

Para Marilei, essas “transformações” pelas quais a mulher passa ao longo da luta contra o câncer são os sinais que provam quanto ela é guerreira e poderosa. “Não há motivo para ter vergonha de mostrar quem ela é e o que está enfrentando”, afirmou.

O jeito dela de ajudar

O Outubro Rosa é um mês inspirador para a conscientização da necessidade de prevenção ao câncer de mama, mas também motiva as mulheres a se solidarizarem com quem enfrenta a doença. A estudante de enfermagem, Manuela Siqueira, aproveitou a época para doar os cabelos à Liga Feminina de Combate ao Câncer. “Na graduação, convivo com pessoas nessas condições e sei que a autoestima é muito importante. Esse foi um jeito que achei de ajudar”, disse.

Manuela doou cerca de 30 centímetros de seus cabelos pretos. E foi tudo planejado. Ela deixou crescer mais do que de costume para que pudesse doar a mecha e ainda manter um comprimento que a agradasse. “Eu até tive medo de não gostar do cabelo mais curto, mas foi muito bom mudar, ainda mais tendo a recompensa de poder ajudar quem está precisando”, destacou.

Liga auxilia o paciente desde o diagnóstico até a peruca

Há 25 anos, a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Candelária é referência para pessoas que precisam de suporte para enfrentar a doença. Atualmente, são 49 pacientes mensais que recebem apoio da entidade. E isso compreende todas as etapas do processo, desde o diagnóstico, passando pelo tratamento, até a recuperação da autoestima. Foi pensando em melhorar o jeito que as mulheres se veem no decorrer das sessões de quimioterapia que a entidade firmou parceria com a ONG Penélopes Solidárias, de Passo Fundo.

Funciona assim: a Liga manda um quilo de mechas de cabelo e a ONG devolve uma peruca. Nesse sistema, quatro perucas já foram produzidas para as pacientes candelarienses. De acordo com a presidente da entidade, Marilei Reinheimer, as peças são emprestadas para as mulheres que perderam o cabelo e, após o crescimento dos fios, a peruca retorna à Liga para auxiliar outra paciente que necessita.

As doações chegam de todos os cantos. Conforme Marilei, o público que mais doa são as crianças e adolescentes. “Quando elas nos trazem, conversamos sobre o destino do cabelo delas, para que essas sementinhas que estamos plantando permaneçam dando frutos e contagiando outras crianças”, relatou. Ela conta ainda que a campanha ganhou força através do boca a boca e das redes sociais.

Com o engajamento da comunidade, mais mulheres podem se sentir mais bonitas mesmo durante a luta contra o câncer. “A autoestima é fundamental para elas quererem se cuidar. Já é metade do caminho andado”, comentou.

Doe você também

>> Qualquer pessoa pode doar cabelos para o projeto da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Candelária. Os únicos requisitos são: cortar o cabelo enquanto estiver preso em um rabo de cavalo, com, no mínimo, 15 centímetros de comprimento. Pode ser em qualquer cabeleireiro. Depois, é só levar até a Liga.

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