Para encerrar as reportagens referentes ao Setembro Amarelo, o JC preparou uma entrevista com o psiquiatra, Fernando Godoy Neves. Ele é professor na Univates, onde também pesquisa no Centro de Pesquisa Translacional em Transtornos de Humor e Suicídio. Neves também é membro do Comitê de Prevenção ao Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e atende na clínica PróVida. Confira:
Qual o maior erro da sociedade em relação ao suicídio e ao suicida em potencial?
>>Não valorizar as queixas, não levar a sério, não dar a devida importância aos sintomas que o paciente está apresentando. Achar que é para chamar atenção, que quem quer cometer suicídio não avisa, faz. Esse é o maior erro: não estar disponível para escutar e não ajudar quando há um pedido de ajuda.

Como cada pessoa pode fazer a sua parte para evitar o aumento nos casos?
>>Justamente dar atenção, valorizar, ajudar alguém que está falando que não vê sentido na vida, que é um estorvo, que é um peso, que só incomoda, que seria melhor sumir, morrer, desaparecer, que não quer mais acordar. Então, dar a importância devida a isso, para tentar fazer essa pessoa se dar conta de que ela precisa de tratamento.
Somente pessoas com depressão cometem suicídio?
>>Não. O suicídio deve ser entendido como, por exemplo, ter febre, que está relacionada a várias doenças. O suicídio, da mesma forma, pode ter relação com várias doenças psiquiátricas. Então, o suicídio ou o pensamento suicida indica que a doença chegou ao ponto mais grave. Seja depressão, transtorno bipolar, uso de drogas etc.
Quais cuidados devem ser tomados em relação aos sobreviventes?
>>Tem que se dar muita atenção ao sobrevivente. Ainda mais se aquele sobrevivente foi quem encontrou a pessoa que cometeu suicídio. Ter visto a cena aumenta o risco de esse sobrevivente cometer suicídio. Quem fica, geralmente fica com sentimento de culpa, procurando momentos em que não foi um bom ouvinte ou que deveria ter feito algo diferente.