Durante os períodos secos, o problema é o mau cheiro e a proliferação de mosquitos. Quando chove forte, a situação se agrava: o esgoto transborda e invade as casas. A sanga que nasce nas imediações da Rua do Aqueduto, ao lado de uma lavoura, cruza a Rua Reinaldo Petry e deságua no arroio Molha Pequeno. Há décadas, é fonte de transtornos para os moradores — sem receber a devida atenção do poder público.
Na terça-feira, dia 17, durante mais um episódio de chuva intensa em Candelária, o esgoto voltou a invadir residências, provocando danos materiais e emocionais. Uma das atingidas foi Sedinéia Teichmann, 40 anos, gerente de padaria. Moradora da Rua Reinaldo Petry desde os cinco anos, ela vive hoje nos fundos da casa dos pais, com o marido, um filho menor de idade, a filha e o genro.
“Veio muita água e subiu muito rápido. Quando vimos, já estava entrando dentro de casa. Saiu pelo ralo do banheiro e subiu pela frente também”, relata Sedinéia. Ambas as residências sofreram perdas materiais, como eletrodomésticos e móveis danificados pela água. “Dá medo de perder tudo o que a gente construiu com tanto esforço. Dá pânico, tu não sabe o que fazer. Tu reza para a água baixar”, desabafa.
Mas o impacto vai além dos bens materiais. “Eu já estava meio esgotada, e isso foi o estopim para eu procurar um médico. Entrei em depressão, estou tomando antidepressivos. É um processo longo agora, porque passo mal, sinto dor no peito, medo, uma angústia muito grande”, revela.
Quem também teve a casa alagada foi o casal Mauro Ernesto Schmachtenberg, 61 anos, pintor, e Janete da Silva, 50, afastada do trabalho por questões de saúde. Eles vivem no local há 33 anos e estimam que a casa já tenha sido invadida pela água pelo menos dez vezes. “Falta mais comprometimento da engenharia da Prefeitura”, critica Mauro.
DÉCADAS DE PEDIDOS
Hoje aposentado, Telmo Teichmann, 73 anos, trabalhou cerca de duas décadas para a Prefeitura como vigia. Segundo ele, nesse período todo sempre pediu para que o esgoto a céu aberto fosse encanado. Certa vez o Executivo até se comprometeu a fazer a obra se os moradores comprassem os materiais, mas os custos foram considerados inviáveis.
A RESPOSTA DA PREFEITURA
De forma direta, o prefeito Nestor Ellwanger “Rim” afirmou que não tem o que fazer.
A explicação técnica, porém, é mais complexa. De acordo com Petielle Cardoso de Oliveira, diretora do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento, não existe um projeto de canalização para a área. Ou seja, o esgoto a céu aberto deve permanecer como está. Além disso, Petielle explica que a tubulação existente na Rua Reinaldo Petry não suporta a quantidade de água proveniente das lavouras próximas, mesmo após a Prefeitura ter feito uma canalização na Rua do Aqueduto com bueiros que direcionam parte da água para o arroio Minhoquinha e outra parte para a sanga que atravessa a Petry.
A Secretaria de Planejamento informou ainda que a proprietária das terras foi intimada a abrir uma valeta em sua lavoura, de forma a desviar parte da água que hoje sobrecarrega a rede pública.
RESISTÊNCIA E DESABAFO
Sedinéia, assim como os demais moradores, segue enfrentando a situação com o apoio da família. “É bom que as pessoas saibam que nós também fomos atingidos. Na enchente de 2024, ficamos sem trabalhar, porque vendíamos para o interior. Só sobrevivemos porque meus pais, com um salário mínimo de aposentadoria, nos ajudaram”, conclui.