Polícia Civil indicia médico plantonista por morte após atendimento no Hospital Candelária

Investigação concluiu que houve indícios de negligência do profissional de saúde

0
Médico foi indiciado por homicídio culposo por morte de Simone Linhar após atendimento no Hospital Candelária - Crédito: Divulgação / JC

A Polícia Civil de Candelária concluiu nesta semana a investigação que apurou as circunstâncias e as causas que levaram à morte da empregada doméstica e cuidadora de crianças, Simone Linhar, 46 anos, ocorrida no dia 3 de outubro de 2024, após ela ser atendida por um médico plantonista do Hospital Candelária e ser liberada da casa de saúde sem a realização de exames para investigar uma suspeita de problemas cardíacos apresentada pela paciente. Minutos após sair do hospital, ela acabou caindo em via pública, próximo de sua casa, que fica a uma quadra do hospital. Ela foi socorrida por populares e encaminhada novamente ao Hospital Candelária, mas não resistiu às tentativas de reanimação e veio a óbito na casa de saúde. A morte de Simone levantou suspeitas sobre a adequação do atendimento médico realizado pelos órgãos de saúde. Com o auxílio da advogada Vanusa Henker, a família registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil, abrindo uma investigação para apurar o ocorrido.
Na tarde de ontem (27), o delegado Tiago Bittencourt, que comandou as investigações do caso, confirmou que o inquérito policial sobre o caso foi concluído com o indiciamento do médico plantonista do Hospital Candelária que atendeu a paciente por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar). “Realizamos diversas diligências, ouvimos todas as pessoas que prestaram atendimento para a Simone, a médica do Posto de Saúde Central, enfermeiros e técnicos que atenderam a vítima, fizemos o interrogatório do médico plantonista, analisamos o celular da vítima, que tinha elementos importantes, e ouvimos os familiares para colher informações”, relata o delegado.
Na conclusão do inquérito, Bittencourt relata que alguns dias antes do óbito, Simone já estava apresentando sintomas de dor torácica e cansaço que ela havia relatado para a médica do Posto de Saúde onde ela buscou o primeiro atendimento. “A médica que atendeu ela no Posto de Saúde confirmou que ela estava com estes sintomas. Ela também relatou os mesmos sintomas para alguns familiares e isso também aparece nas mensagens pelo celular”, relata o delegado.
No dia do atendimento, o delegado relata que Simone procurou o PAM Central, onde a médica, desconfiada que pudesse ser um problema cardíaco, encaminhou ela para o hospital sugerindo a realização dos exames de raio-X no tórax e um eletrocardiograma, pois ela estava suspeitando que a paciente pudesse estar com algum problema cardíaco. “Quando ela chega no hospital, ela não faz estes exames, porque o médico do Posto de Saúde encaminha para o hospital e quando a paciente chega lá, ela é reavaliada pelo médico plantonista e entendeu que ela tinha um problema gástrico e dispensou a realização destes exames. Ela foi medicada por problema gástrico e ansiedade e foi liberada. Infelizmente, alguns minutos depois, ela acabou caindo na via pública e veio a óbito”, frisa.

Atendimento de médico foi “superficial e abreviado”, diz delegado

O delegado confirmou que no atestado de óbito de Simone Linhar consta que a morte foi causada por uma parada cardiorespiratória de caráter indeterminado, sendo uma morte súbita. “A partir disso, realizamos o interrogatório do médico, e ele nos informou que a paciente não relatou para ele que estava com dor torácica e sentindo cansaço. Para nós, isso ficou estranho, pois esse depoimento foi o único que ficou descontextualizado de todos os demais depoimentos, onde ela havia relatado esses sintomas, e somente para o médico ela não havia relatado”, confirma o delegado, relatando ainda que o médico plantonista fez uma ação terapêutica com administração de remédios para problemas gástricos e orientou que ela esperasse para ver se os sintomas passariam. “As enfermeiras que ouvimos nos disseram que não havia essa recomendação no encaminhamento para a medicação, e sim que havia um encaminhamento para ela fazer a medicação e ser liberada, e foi o que aconteceu”, relata o delegado.
A Polícia Civil solicitou uma perícia indireta no prontuário, que teve o resultado inconclusivo. Ao finalizar, o delegado relata que, no entendimento da Polícia Civil, o médico plantonista tinha meios de fazer um atendimento mais cuidadoso com a paciente. “O atendimento dele foi superficial e abreviado. Ele não solicitou os exames que poderiam ter identificado os problemas cardíacos que levaram ela a óbito. Pelo contexto, esse atendimento abreviado do médico pode ter interferido no resultado, e isso constitui indícios de negligência necessária para o indiciamento pelo crime de homicídio culposo”, frisa. O inquérito já foi remetido ao poder judiciário, e caberá ao Ministério Público analisar o caso e poderá oferecer a denúncia ou pedir o arquivamento do caso. Se for denunciado, o juiz irá julgar o caso sem júri.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui