Apesar de conviver, diariamente, com quatro homens, a frase que dá título a este texto é repetida com frequência pela professora aposentada Simone Becker. E não tem a ver com discurso de ódio, não. Ela só não quer, de jeito nenhum, abrir mão da determinação que acredita ser uma das principais características do sexo feminino. Nem tudo foram flores, mas há muita beleza ao longo do caminho trilhado por Simone.
Aos 56 anos, ela se orgulha da persistência, que a fez realizar quase todos os sonhos que escreveu em um papel há mais de 40 anos: dar aulas de educação física e na educação infantil e ser mãe de quatro filhos. Atualmente, com uma bagagem de 32 anos no magistério e três filhos criados, ela se diz uma mulher feliz e realizada. Mais que isso: uma mulher que, com jeitinho, administra quatro homens e dá as cartas sobre como lidar com o mundo e o universo feminino. “Não é muito difícil”, revelou.
Um dos segredos, segundo ela, é o diálogo. Outro segredo é – ainda que não seja uma tarefa simples – conseguir separar a Simone mãe, a Simone amiga, a Simone mulher, a Simone profissional e quantas mais existam. Para isso, estipulou uma relação de confiança com o marido, Gilson. Conforme explica, nenhum dos dois deixou de ter o seu grupo de amigos. Assim, vez ou outra os dois fazem programas separados: ele vai para o futebol e ela sai com as amigas, por exemplo. “Temos nossa vida de casal, mas não abro mão de ter a minha vida própria e manter a minha essência”, destacou.
A ESSÊNCIA
Simone gosta de cidade pequena; parece segura, mas não é; precisa de suporte para encarar desafios, inclusive ir ao banco. “Assim como toda mulher, tenho meus medos e inseguranças. O maior desafio é enfrentar isso”, disse. E é vencer pequenas barreiras que dão a Simone o prazer de estar bem consigo mesma. O amadurecimento fez com que ela aprendesse a lidar com mais tranquilidade com a estética. “É libertador, muito diferente de quando se é jovem. Tudo muda, principalmente o corpo. O diálogo torna essa situação mais fácil”, relatou.
Se Simone pudesse dar um recado para as futuras gerações de mulheres, ela diria para focarem, durante a juventude, na conquista do seu espaço e na busca por autoconhecimento. “Vocês vão ter todo o tempo do mundo para casar, ter filhos. Antes disso, sejam vocês”, orientou.
Diálogo e gentileza: como lidar com uma mulher
Assim como todas as mulheres, Simone se divide em muitas facetas: ser mãe, trabalhar, cuidar de si mesma etc. Nesse contexto, uma das preocupações em relação à educação dos filhos Humberto, Eduardo e Augusto, foi ensinar-lhes sobre a importância de respeitar e tratar bem as mulheres.
Isso começou quando eles ainda eram crianças e levavam presentes para as professoras. Depois, com as namoradas, as orientações eram diferentes, mas sempre cheias de gentileza. Mais que isso: Simone faz questão de deixar clara a necessidade de dar espaço, ouvir e valorizar as mulheres. “É uma questão de educação e eu, como mãe e mulher, tenho obrigação de preservar isso”, afirmou.
Dessa maneira, ela acredita que esteja fazendo com que os filhos sejam mais tolerantes e propaguem a ideia de um convívio sem preconceitos. “Eu quero me orgulhar dos meus filhos, sabendo que eles sabem os limites das ações com uma garota e como se comportar de maneira adequada com elas”, disse.
Tempo para olhar para si mesma
Simone é uma pessoa que gosta de ouvir, principalmente pessoas mais velhas. “Ouvir a experiência dos outros é uma maneira de encurtar o nosso caminho”, disse. É por isso que, enquanto conviveu com a mãe, Zaira, esteve sempre atenta aos ensinamentos dela. Alguns dos conselhos mais marcantes, ela ainda lembra: “não casa antes dos 30, trabalha, estuda, viaja, conhece a vida”.
Ela seguiu a ideia à risca, na medida do possível. Atualmente, faz questão de se manter em atividade e em contato com a gurizada, para continuar com o espírito jovem. Simone vai à academia, na ioga, não abre mão do chimarrão, borda e por aí vai. Tudo isso sem deixar os filhos e a casa de lado.
UM NOVO OLHAR
Recentemente, Simone viajou com o marido, Gilson, e os dois filhos mais novos, Eduardo e Augusto, para a Tailândia. Lá encontraram o primogênito, Humberto, que mora na Austrália. A viagem, para ela, foi um divisor de águas, pois, ainda que se considerasse tranquila em relação à maneira de encarar a vida, percebeu que a mentalidade dela era muito limitada. “Eu vi jovens independentes, de 18, 20 anos, que trabalham para juntar dinheiro para conhecer o mundo. É isso que elas querem. Não existe mais aquela ideia de estudar, casar, ter filhos, se aposentar”, relatou. Para Simone, esse é o futuro ideal, um mundo onde cada um possa ser o que quiser e, assim, ser feliz.
Um pouco mais…
>> Estar com as amigas é uma das coisas que Simone mais gosta. Quando há um problema, todas choram; quando há razão para sorrir, todas estão juntas também. “É essencial para a mulher ter alguém para desabafar”, comentou. Segundo ela, durante a menopausa, essa troca foi ainda mais importante, porque afeta muito o psicológico.
>> Simone já sentiu falta de ter filhas, mas agora se contenta com as noras, que, para ela, se tornam filhas de coração. “Acho que se eu tivesse uma filha, seria minha parceira para roupas, maquiagens, essas coisas… mas a gente acaba se acostumando”, disse.