
Mais uma vez, não houve acordo entre as empresas fumageiras e as entidades representantes dos fumicultores. A segunda rodada de negociações aconteceu na última sexta-feira (24), na sede da Afubra, em Santa Cruz do Sul, e terminou com sentimento de frustração para a Comissão de Representação dos Produtores. Por isso, a orientação é de que, se o produtor quiser vender, comercialize com base nos valores da safra passada. O agricultor Rodrigo Coimbra da Rocha, de 39 anos, fez a segunda venda desta temporada nessa quarta-feira (29), mas não está contente com o preço.
A empresa para a qual ele costuma vender o produto, a China Brasil Tabacos, foi uma das sete fumageiras a apresentar proposta de reajuste do preço de comercialização à comissão. Porém, todos os índices variaram de 2,1% a 2,8%. Conforme, Rocha, no entanto, seria necessário um aumento mínimo de 7%, para que o valor do tabaco pudesse acompanhar a escalada dos custos de produção. “Lenha, combustível, energia elétrica, insumos… Só a mão de obra aumentou 10% nesta safra”, comentou.
Outra preocupação do agricultor é em relação à classificação do produto. “Eu planto fumo desde criança e já vi acontecer de eles aumentarem o preço, mas desclassificar o tabaco; atirar a classe lá para baixo e continuam pagando pouco. Neste ano, o preço ainda não é o ideal, mas estão deixando numa classificação boa”, explicou. Por enquanto, Rocha só vendeu as folhas superiores, as da ponteira. O restante, ele pretende segurar, na esperança de que o preço melhore.
QUEBRA
A propriedade de Rocha é sustentada, principalmente, pela cultura do tabaco. Nesta safra, foram plantados 86 mil pés, na localidade de Vila Fátima. A colheita iniciou no fim de setembro e foi concluída no dia 9 deste mês. Desde então, família e empregados estão empenhados na tarefa de surtir o fumo. Nessa lida, segundo Rocha, eles devem levar mais dois meses.
O maior desafio da safra 2019/2020, para Rocha, foi o clima. Na época de plantio, uma onda de frio intenso castigou as mudas recém-transplantadas. Depois, em outubro, a chuvarada alagou as lavouras e dificultou o desenvolvimento das plantas. E, há pouco menos de dois meses, a cultura sofre com a estiagem. A estimativa do agricultor é de que haja uma quebra de 20% na produção. “Na safra passada, plantamos a mesma quantidade de fumo deste ano e enchemos 25 fornadas, durante a secagem. Neste ano, deu só 21”, relatou. Além da redução de volume, Rocha afirma que a qualidade do produto também está inferior.
Comissão avaliou as propostas como desrespeitosas
Na última sexta-feira (24), a Comissão de Representação dos Produtores, formada pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Federações dos Sindicatos Rurais (Farsul, Faesc e Faep) e Federações dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep), recebeu oito empresas para negociação. Sete apresentaram proposta e um apenas acompanhou. Para a comissão, os índices são desrespeitosos com os produtores, de maneira que não cobrem o custo de produção.
Para esta safra, a negociação está encerrada. Contudo, foi solicitada uma reunião do Fórum Nacional de Integração do Tabaco (Foniagro), para o dia 5 de março. Na oportunidade, a Comissão pretende padronizar a metodologia de estimativa de custo de produção, para que seja unificado o levantamento dos dados, tanto apresentados pelas empresas quanto pela representação dos produtores.
Propostas
>> Alliance One – 2,5%
>> China Brasil Tabacos – 2,5%
>> CTA – 2,85%
>> JTI – 2,55%
>> Philip Morris – 2,1%
>> Premium Tabacos – não apresentou proposta
>> Souza Cruz – 2,75%
>> Universal Leaf Tabacos – 2,61%